Conferência do professor, escritor e sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcellos, sobre o escritor brasileiro Oswald de Andrade, na XI Edição das Jornadas Bolivarianas. Literatura e Política na América Latina.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Oswald de Andrade, o salva vidas da literatura brasileira
Este artigo aborda a leitura de Oswald de Andrade feita pelos poetas concretos (Augusto
de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari) de São Paulo a partir da década de
60. Essa releitura de alta densidade formal não deixou de ensejar uma crítica histórica e
marxista em muitos jovens intelectuais da época, tanto na crítica literária quanto na
crítica musical, notadamente o ensaio De Olho na Fresta. Faz um balanço da influência
nacionalista e marxista, incluindo o escritor Darcy Ribeiro e o político Leonel Brizola,
tendo como influência desencadeadora Oswald de Andrade, não obstante ter sido este
escritor modernista adversário de Getúlio Vargas de 1930 a 1954.
Leia o artigo na íntegra na página da REBELA
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
Do supermercado à farmácia, o drama dos nossos dias
Por elaine tavares
O livro “Nossa vida de cada dia entre o supermercado e a drogaria”, do professor e sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcellos é um trabalho perturbador e provocativo. Apresentando uma série de ensaios sobre a vida e as ideias do médico Antônio Silva Mello, que foi editor da Revista Brasileira de Medicina por 40 anos, Gilberto desvela os motivos pelos quais esse importante pensador brasileiro segue completamente esquecido, tanto nas Escolas de Medicina quanto no mundo intelectual.
Silva Mello foi um homem que pesquisou em profundidade a comida dos brasileiros. E já nos anos 50 ele denunciava a relação visceral que começava a se fortalecer entre o que se come e as doenças que são causadas por isso. Foi o primeiro a ver que havia um movimento pendular no ato de comer e ser, ao mesmo tempo, medicado por uma mesma produção econômica, política e cultural. Farejou com sagacidade que a produção capitalista de comida estava destinada a produzir doentes para alimentar a indústria farmacêutica. Era o início do que Gilberto chama de “gastrofarmacocolonialismo”.
Silva Mello nasceu em Minas, Juiz de Fora, em 1886, teve infância pobre, perdeu os pais bem cedo e muito jovem começou a trabalhar. Mas, foi por conta da ajuda de um cunhado que pode estudar e se formar em medicina em Berlim, Alemanha. Só que apesar de formado na Europa, Silva Mello nunca deixou que suas ideias fossem colonizadas, tanto que sua preocupação era sempre o povo brasileiro e os problemas locais. Dedicou sua vida para conhecer e compreender a totalidade da civilização brasileira. Clinicava no Rio de Janeiro e lá viveu até morrer. Escreveu uma obra imensa na qual desvendou os segredos da amamentação, da comida e do homem tropical. Foi o precursor do debate sobre a importância dos trópicos para a discussão da energia.
Sua maior batalha foi levar ao conhecimento das gentes que a comida produzida pela indústria capitalista não era nutritiva. Também apontava que a tendência da comida rápida levaria a uma degeneração nutricional e humana. “Se o mundo teimar em comer às pressas, tristemente, cada vez mais se agravará essa civilização de muleta, de olho de vidro, de dentadura postiça”. Defendia que o brasileiro tinha de comer fubá, farinha de mandioca, rapadura, coentro, cana de açúcar, feijão, arroz assim como receitava o uso da cadeira de balanço e da rede.
A medicina que praticou ao longo da vida era baseada na realidade brasileira, no clima, na cultura, na produção autóctone. Foi tão longe nas suas pesquisas sobre a comida e a cultura que chegou a desenhar um tipo novo de vaso sanitário que, segundo ele, era mais adequado para o nosso jeito de ser e de comer. Para ele, a comida enlatada tirava do povo o paladar e provocava doenças, além de enfraquecer os dentes. Sem mastigação, acostumando-se á comidas moles, o ser humano acabaria por não precisar mais dos dentes, servindo-se dele apenas como estética, bem ao gosto da produção capitalista. Afirmava categórico que a alimentação moderna provoca numerosas enfermidades sobretudo no aparelho circulatório e nos sistema nervoso, promovendo o uso abundante de calmantes, sedativos e dormitivos. Alertou para o crescente número de doenças do aparelho digestivo.
Filho do interior mineiro enaltecia a comida do sertanejo, que era o que fazia dele um forte. Condenou o trigo descorticado, o arroz branco, o açúcar e a farinha refinados. Segundo ele, os maiores vilões da saúde. Também criticava o consumo da água mineral, a qual não continha minerais, era gaseificada artificialmente e ainda ficava morta no plástico.
Silva Mello não aceitava a interferência das farmacêuticas na discussão médica e já mostrava os problemas que poderiam vir quando uma mesma empresa produzisse comida e remédio, coisa que hoje é bastante comum, produzindo o que Gilberto Vasconcellos chama de gastrofarmacocolonialismo, que deixa as pessoas dependentes da ebriedade do capitalismo neuroanfetamínico.
Os temas de pesquisa de Silva Mello que se concretizaram em dezenas de livros são trazidos por Gilberto aos borbotões, e vão nos afogando em dúvidas e incertezas. Como manter a saúde num mundo de comidas artificializadas? Como sobreviver aos agrotóxicos e aos transgênicos (tema que Silva Mello não viu florescer)? Como enfrentar a correria do mundo moderno e mastigar com lentidão? Como fortalecer os dentes se a comida é mcdonalizada? Como não ter um câncer no intestino se só comemos venenos?
Terminamos o livro nesse assombro, mas entendendo claramente como o sistema capitalista de produção cria toda uma forma de vida artificial que é voltada para a produção da doença. Não é sem razão que as farmacêuticas exerçam tanto poder, bem como não é sem razão que a vida esteja completamente medicalizada e a medicina cada vez mais refém da produção de remédios e da indústria do exame.
Também fica muito claro o porquê do esquecimento da obra e do pensamento de Silva Mello nas faculdades e no campo da Medicina. Ele era um atrapalho para essa lógica mercantilizada. Ele era um crítico feroz da indústria da doença e um anunciador da saúde, coisa que soa inconcebível no mundo de hoje.
A notícia boa é que Gilberto Felisberto Vasconcellos recupera essas ideias, desvela essa obra, e com sua escrita criativa e ousada, recoloca o tema da saúde no seu devido lugar.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
O insensato Ludovico Silva entre a poesia e o marxismo.
Ludovico Silva
Ludovico Silva foi um grande poeta venezuelano que se destacou também pelo rigor conceitual ao escrever meia dúzia de livros sobre o conceito de alienação na obra de Karl Marx. Como ele mesmo salientou, é difícil encontrar abordagem tão profunda sobre a alienação e a ideologia em outras paragens do mundo. Não apenas leu Marx, fez exegese e hermenêutica de seus textos, avançou na recriação inventiva de categorias e conceitos elaborados por Karl Marx em O Capital e Grundrisse. Criou a categoria talvez mais importante do marxismo no século XX, a de mais-valia ideológica.
Há quem diga que essa categoria poderia ter sido incluída no último capítulo do último volume de O Capital. Vale destacar o originalíssimo livro sobre o estilo literário de Karl Marx. Atenção: não se trata de um estudo sobre o gosto literário de Karl Marx (Heine, Shakespeare, Diderot, Cervantes, Goethe, Ésquilo), e sim uma análise imanente da linguagem de Karl Marx, cuja dimensão literária o levou a iluminar cientificamente os aspectos sociais e econômicos da realidade.
Leia o texto completo na REBELA.
domingo, 15 de novembro de 2015
O livro da minha vida
Gilberto Felisberto Vasconcellos fala sobre o livro que marcou a sua vida no projeto da Editora da UFSC "O livro da minha vida".
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Nildo Ouriques, discípulo de Ruy Mauro Marini, detona os cipayos esclarecidos de São Paulo
Nildo Ouriques, discípulo de Ruy Mauro Marini, detona os cipayos esclarecidos de São Paulo
Os cientistas
sociais temos a obrigação de submeter à apreciação crítica o corajoso livro de
Nildo Ouriques que faz a anatomia do poder cultural de São Paulo. Beleza de
livro, herético, concebido com liberdade e zelo pelo estilo, o que é raríssimo
entre economistas e sociólogos que padecem de impotência quanto à expressão
linguística. Nele não há a psicologia vaselina do “bendigo a tutti” e o horror
do confronto intelectual. A propósito, pela primeira vez na prosa
nildouriquiana surge Oswald de Andrade investindo contra o colonialismo interno
paulista um ano depois de deflagrada a Semana de Arte Moderna de 22.
Feuerbachiano,
possivelmente sem ter lido Feuerbach, livre dos cânones católicos e
protestantes, Oswald de Andrade entendeu que o padre latino foi o primeiro
ideólogo que trouxe a escolástica, fonte de todos os males futuros nas letras e
Forças Armadas. O único escritor da Semana de Arte Moderna que se tornou
marxista e comunista. Paradoxalmente foi ignorado pelos marxistas e comunistas
colonizados. Deixaram-no roendo beira de pinico.
Com enorme
prestígio na década de 30, Luis Carlos Prestes curtia Mário de Andrade, que foi
a favor do separatismo paulista, tido como autor imprescindível à construção de
uma sociedade socialista. Antônio Cândido não é tematizado no livro de Nildo
Ouriques. O crítico mineiro democrático socialista liberal reticente ao
nacionalismo varguista deixou no ar a identificação marxismo e stalinismo.
Fundador do Partido dos Trabalhadores junto com o nordestino Mário Pedrosa e o
carioca Sérgio Buarque de Holanda.
domingo, 8 de novembro de 2015
O enguiço das ciências sociais
Gilberto Felisberto Vasconcellos fala sobre seu livro: Gunder Frank, o enguiço das ciências sociais.
sábado, 7 de novembro de 2015
Gilberto Felisberto Vasconcellos: Bibliografia
A Questão do
Folclore no Brasil: do Sincretismo à Xipofagia. EDUFRN, 2009.
Depois de
Leonel Brizola. Editora Caros Amigos, 2008.
A jangada do
Sul: Getúlio, Jango e Brizola. Editora Casa Amarela, 2005.
Verdades quase
desconhecidas (org.). Editora UFJF, 2004.
Brazil no
prego. Editora Revan, 2004.
Dialética dos
Trópicos (org.). Instituto do Sol, 2002.
Biomassa: a
eterna energia do futuro. Editora Senac-SP, 2002.
A salvação da
lavoura: receita da fartura para o povo brasileiro. Editora Casa Amarela, 2002.
Glauber Rocha
Pátria Livre. Editora Senac-SP, 2001.
O xará de
Apipucus. Editora Casa Amarela, 2000.
O Poder dos
trópicos. Editora Casa Amarela, 1999.
As ruínas do
Pós-Real. Editora Espaço e Tempo, 1999.
O cabaré das
crianças. Editora Espaço e Tempo, 1997.
O príncipe da
moeda. Editora Espaço e Tempo, 1997.
Eu & a
Xuxa: Sociologia do Cabaré Infantil. Editora Leia Mais, 1991.
Brizulla - Lula
e Brizola a esperança do povo. Brasília: Pajelança, 1989.
Collor, a
cocaína dos pobres. Editora Ícone, 1989.
Ideologia
curupira. Editora Brasiliense, 1978.
De olho na
fresta. Editora Graal, 1977.
Vide Página Bibliografia
"Homolattes"
"Homolattes"
Gilberto Felisberto Vasconcellos
Até Lenin na
história do marxismo foi acusado de não escrever obra teórica, e sim panfleto,
plaquete e propaganda. Lembrar que o livro Un Coup de Dés Jamais N’Abolira Le
Hasard, de Stéphane Mallarmé, foi publicado em plaquete. Dezenas de plaquetes
foram escritas pelo nosso Luís da Câmara Cascudo.
Na atual
moldura burocrática da escrita é absolutamente necessário colocar, sem nenhuma
ideia própria, notas ao calcanhar da página. A miséria universitária foi escarafunchada
por Álvaro Vieira Pinho, Darcy Ribeiro, Nelson Wernek Sodré e Maurício
Tragtemberg.
A universidade
não pensa o País, não apresenta roteiro para superar o atraso e o
subdesenvolvimento. Depois desses autores a situação piorou.
O jovem
professor ingressa brochildo e desvitalizado na carreira dando por finda e
anacrônica a incumbência de que a universidade deve refletir sobre o saber
necessário. Não há nação, não há povo e muito menos universidade nacional.
Assim prevalece o cinismo, o que vale é o empreguinho, o cargo, o salário do
nada.
É repugnante
verificar que os cursos de pós-graduação seguem a receita do Banco Mundial.
Este indica os assuntos e os autores do triunfalismo capitalista.
Leia o texto
completo na Loja
Virtual de Caros Amigos
Reproduzido de
Caros Amigos . 25 jul 2015
Edição 220
Gilberto Felisberto Vasconcellos
Gilberto Felisberto Vasconcellos
Por Elaine
Tavares
Gilberto
Felisberto Vasconcellos nasceu em 1949 na pequena cidade de Santa Adélia,
interior de São Paulo, uma lugar que só vingou por conta de que por lá passou o
traçado da estrada de ferro. Por isso, talvez, esse guri, filho do médico
sanitarista Zolachi e da professora Adelaide, não poderia ter outro olhar que
não esse que lhe é peculiar: o olhar da santa loucura, essa loucura de mirar
horizontes não vislumbrados pela maioria.
Precoce nas
letras, estudioso contumaz, ele é escritor, professor, sociólogo e provocador.
Se parece muito com a primavera, esse tempo da explosão da beleza, a explosão
das cores, a explosão da vida. Assim é o Gilberto, uma explosão. Perto dele,
nada fica em pé. Ele grita, gesticula, xinga, mas, se prestarmos bem atenção
vamos perceber a profunda ternura que desagua nesse fervoroso amor pelas coisas
do Brasil. Glauber, mandioca, Guerreiro Ramos, Major Quaresma, Bautista Vidal,
Osvald de Andrade, Darcy, Brizola, Pagu, são alguns dos seu amores.
No dia em que
eu o conheci ele gritava sobre alguma coisa ou alguém, bradando pelo sol.
O soooool. De cara, ele me estressou. Mas, bastou apenas um minuto a mais para
que eu compreendesse que o seu grito era a maneira mais singela de chamar a
atenção para as coisas desse imenso país.
Da sua obra,
que é vasta e perturbadora, saltam o curupira, o saci, a xuxa, o Collor, o
príncipe da moeda, o cabaré das crianças, a ruína do real, o poder dos
trópicos, o Glauber, as receitas de fartura para o povo brasileiro, os
trópicos, as verdades desconhecidas, o Brasil endividado, Getúlio Vargas,
Leonel Brizola, Gunder Frank, o folclore, os cafundós. Parece que ele pode
falar de tudo. E pode.
Sua
especialidade é encontrar enguiços, nas ciências, no cinema, na literatura, no
mundo. Ele encontra os enguiços e os aponta com um jeito todo seu. A obra de
Gilberto Felisberto Vasconcellos é um mar generoso e piscoso. Um universo de
brasilidades e de assombramentos.
Hoje, ele é
professor na Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, de onde partem
seus torpedos semanais para a Revista Caros Amigos, e seus artigos profundos
sobre a cultura e a vida brasileira.
Os livros
seguem brotando, afiados, necessários, urgentes, tal qual ele mesmo. Um homem
que movimenta as águas, que trepida o mundo e generosamente espalha sua
genialidade.
Assinar:
Postagens (Atom)