segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Educação Hevanjèlykan First


Os professores ateus e humanistas, influenciados pelo grego Epicuro, que foi objeto da tese de doutorado de Karl Marx, estão com os dias e as noites marcados para morrer. Mas, atenção, os perseguidos não serão apenas os admiradores de Epicuro e Demócrito.

Nada no céu
Tudo na Terra.

Esse apotegma de Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim a favor da vida com gozo e sem dor é um anátema para os pastores sadomasoquistas que se apossaram da outrora Ilha de Vera Cruz.

Os professores excomungados não serão aqueles  comunistas que preferem O Capital à Bíblia.

Os professores perseguidos, ineludivelmente expulsos das escolas com pontapé na bunda, serão os macumbeiros, os umbandistas, os catimbozeiros e os kardecistas.

Que se cuide a professorança devota do Candomblé. Lembrem-se de Edison Carneiro, marxista e folclorista, que na Bahia se protegia da polícia escondido em casa de santo.

Edison Carneiro, que era negro, entendido em Umbanda, colaborou no Dicionário do Folclore Brasileiro de Luis da Câmara Cascudo, o magnífico e inigualável livro sobre a cultura popular, corre o risco de ser queimado em algum Templum Hevanjèlyko.

Não estou a exagerar em meu sinistro prognóstico. Tenho observado que o principal adversário dos neuróticos pentecostais não é o materialismo dialético, e sim o Folclore, a interpretação supersticiosa do mundo que se origina em Dante Alighieri, a quem Luis da Câmara dedicou um livro mostrando que a concepção de Dante do céu é a mesma do povo do Rio Grande do Norte. Acrescente-se que o povo nunca leu o poeta florentino.

O bispo Edir Macedo certamente não aprecia nem Dante nem Luis da Câmara Cascudo.

Pasmem os ociosos leitores, como diria Miguel de Cervantes, o ponto em comum entre Cascudo e Marx é a epígrafe de Dante posta em O Capital: segue o teu caminho...

O ignaro e barulhento igrejário dos pastores odeia o folclore por causa das superstições e das crendices euro-afro-ameríndias. 

Tudo aquilo que diz respeito às crendices do povo que não passa pelo crivo da mercadoria evangélica é objeto de ódio e ataque violento, a ponto dos pastores cobrirem de porrada os umbandistas em favelas do Rio de Janeiro.

O ódio da igreja evangélica contra o folclore evidencia que este não é tão suscetível à mercadoria. No céu o pastor deixa a soberania para Deus em quanto quem manda na vontade eleitoral do povo é Edir e seus correligionários.

Lembra-me ter lido em algum maluco que ama o folclore que sem a oposição às igrejas dos crentes não há a menor possibilidade de existir revolução socialista no Brasil, conquanto haja proletariado e subproletariado crentes.

Os pobres no Rio de Janeiro e os oprimidos são crentes desesperados, informou Ney Lopes, marxista, brizolista, sambista, lexicógrafo do Rio de Janeiro, exímio conhecedor da cultura popular.

Ney Lopes, que foi amigo do meu amigo e professor Joel Rufino dos Santos, tem um verbete primoroso sobre Edir Macedo que trabalhou em loja de lotérica apadrinhado pelo governador Carlos Lacerda. O dízimo auferido dos crentes veio depois do trato rentista com o lotérico. Não é por acaso que Karl Marx meteu o sarrafo na loteria.

Quanto mais pobre a população, mais a Igreja Universal atua com sucesso. A ideologia da classe dominante não pode prescindir da manipulação popular feita pelos pastores ruidosos. Isso ficou evidente com a vitória de Jair neste 2018.

Trinta por cento das gentes brasileiras estão seduzidas pelas vozes evangélicas imbecilizantes que encabrestam e escolhem os candidatos. Nunca houve militância tão aguerrida, tão eficaz, tão persuasiva.

Nada se lhe compara. Partido político algum.

Bancada evangélica. Estado teocrático. O crente está imbuído de uma convicção que transcende a qualquer racionalidade. Quem não está comigo está com Satanás. Meu Deus é melhor que o seu. Milícia evangélica. Conforme o andar da carruagem, os evangélicos estarão armados dando tiro contra o folclore do povo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Deus e os cientistas políticos diante da façanha eleitoral de Jair


É estarrecedora, mas não inexplicável, a vitória de Jair. Eu não sabia de um programa na TV Bandeirantes no qual um palhaço o representava durante quatro anos sendo chamado de “mito, mito, mito”.

Julgava que “mito” fosse uma denominação dada para atribuir-lhe uma espécie de carisma no sentido da graça. Nada disso: “mito” foi uma baixaria criada dentro de um programa de auditório.

Eleito, rindo com escárnio, explicou que mito vinha de um apelido de infância no interior de São Paulo. O chamavam de Palmito, porque ele era um homem magro e alto, daí a corruptela “mito”.

É conversa fiada que ele teria despencado do céu, sem vínculo com as relações sociais ou com a mídia. Na verdade é um prato que está sendo cozinhado há muito tempo.

Logo que ganhou a eleição deu uma declaração jocosa: nenhum cientista político é capaz de explicar minha vitória. Foi coisa de Deus. A ciência não explica Deus. A ciência política não o explica. Nenhum cientista político é capaz de arrumar uma explicação para sua façanha eleitoral. A ciência política é impotente. Só Deus.

Os cientistas políticos são ludibriados pela estatística eleitoral. A ciência política exibe uma lamentável indigência teórica. Os cientistas políticos apenas comentam as pesquisas eleitorais. Neles não há interação entre estrutura de classe e estrutura política, enfim não há gênese histórica. É uma crônica anedótica e superficial que não tem nexo com o passado.

Os EUA nas mãos de Trump e o Brasil sob o comando do capitão, que o povo já está começando a chamar de capetão. Daqui a dois anos Trump vai para casa tomar capilé e Jair não terá o seu coleguinha por mais tempo.

Nunca na história do Brasil houve um total alinhamento com o imperialismo gringo. Banco Central com autonomia irmanado com o banco estrangeiro. Adeus Petrobrás. O propagado “nacionalismo” de Jair é a favor dos EUA.

A desnacionalização do país traz a deformação sobre a história do golpe de 64. A safadeza que não houve ditadura, que a tortura foi fofinha, que o exílio foi de mentirinha, e quem estava realmente querendo dar o golpe eram os marxistas teleguiados por Moscou. Retorna a mistificação que 64 salvou o Brasil do abismo comunista que iria matar todas as nossas criancinhas.

As Forças Armadas voltam a ser objeto de reflexão. Haveria ou não uma ala nacionalista no Exército brasileiro? Afinal, o Exército está inteiramente alinhado à desnacionalização feita pelas multinacionais?
A desnacionalização do território coloca em risco a existência das Forças Armadas. Paulo Guedes é um notório representante do capitalismo monopolista vídeofinanceiro alienígena.

Escola sem partido mas com Bíblia sob a hermenêutica evangélica do bispo Edir Macedo. Vamos cortar os professores de história. Toda a referência ao golpe de 64 será proibida. O que houve, e o que deve ser ensinado pelos professores de história, é movimento de 64, uma onda, um evento, quase uma moda.
Golpe é uma expressão que não poderá ser usada, nem ditadura militar. Porque essas duas expressões não condizem com a realidade que tivemos quando houve a jubilosa intervenção de Castelo Branco, interrompendo o processo democrático trabalhista de João Goulart, que aparece como um bandido. Um bandido que deveria ser expulso e assassinado antes de ir para o Uruguai.

Atente-se que Jair em 1964 não tinha mais que 10 anos, portanto não participou do golpe. Ele gostaria de ter participado, mas era um pirralho.

Vejamos o roteiro sinistro. Abrir o país ao capital estrangeiro, considerar o capital estrangeiro como algo benéfico para o povo e para o país. É por isso que foi amaldiçoado o que ocorreu antes de 64, assim como depois quando as chamadas forças de esquerda tomaram o poder, com a ressalva de que não sei se ele acredita mesmo que o PT tenha alguma coisa a ver com comunismo.

Do ponto de vista histórico, a antítese do bolsonarismo encontra-se no nacionalismo trabalhista brizolista que está morto, portanto Jair não tem opositor real. O seu opositor histórico é o brizolismo marxista. Leonel Brizola é odiado por ter arregimentado o povo na defesa de Jango em 1961 com apoio de uma parte das Forças Armadas. Foi mais ou menos isso o que aconteceu com o Chávez na Venezuela, que é o fantasma para Jair e a direita militar.

O Pentágono demonizou Hugo Chávez, demônio tanto para Trump quanto para Jair. Caluniaram Simão Bolívar, que, aliás, era militar. Estão dando um tiro no próprio pé. Para lembrar meu amigo Bautista Vidal que costumava conferenciar no Clube Militar, os militares brasileiros estão se desqualificando a si mesmos.

O bolivarianismo não é de forma alguma uma contrafação corrupta e apatriótica na América Latina. Jair é antibolivariano, o equivalente dele na Venezuela foi o general Santander. Não é por obra do acaso que o banco Santander foi generoso em sua campanha eleitoral.


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Quebra cabeça do cinema novo


Gilberto Felisberto Vasconcellos está com livro novo na praça. Escritor profícuo, um dos pensadores mais importantes da cultura nacional, ele tem se dedicado a refletir com cada vez mais profundidade os desafios postos pela realidade brasileira. No livro "Quebra cabeça no cinema novo" ele faz um inventário sobre como o imperialismo cultural foi crescendo e se impondo sobre a cultura brasileira, principalmente depois da morte do extraordinário cineasta nacionalista Glauber Rocha, em 1981.

Diz Gilberto:

Não temos território.
Não temos fábrica de antibiótico.
Não temos banco.
Não temos moeda.
Não temos sol.
Não temos água.

Consequentemente não temos cinema brasileiro.

O quebra cabeça é o domínio da telenovela, cujo o padrinho foi Carlos Lacerda, por isso mesmo este está em foco na capa do livro.

Que o leitor não fique chocado.

Carlos Lacerda ajudou a derrubar Getúlio Vargas e foi um dos golpistas de 64. Esse golpe está na essência da filmografia do Cinema Novo.

***

A ênfase de Gilberto Felisberto Vasconcellos, ao discutir cultura e cinema, é posta pela primeira vez na constelação Walter da Silveira, Roberto Pires e Glauber Rocha. A abordagem é regional para entender a dialética do nacional e o universal.

O ponto de partida é o marxismo do crítico Walter da Silveira, que foi o fundador de um cineclube nacionalista e revolucionário em Salvador.

"Tudo começou lá pela metade dos anos cinquenta.
 quebra cabeça não está só no cinema.
O quebra cabeça está no Brasil e na América Latina.
A contradição é fílmica e existencial.
É a contradição nação versus imperialismo."

Não é preciso dizer da atualidade deste livro.
Trata-se de um libelo contra o entreguismo que está rolando nesta trágica atualidade.

O livro é uma produção independente do autor e precisa se pagar. Então, não hesite e faça já o seu pedido: Para Comprar Clique aqui


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Marxista Leninista Revolucionário Bolivariano da Pátria Grande é Jair Bolsonaro


Com a burguesia comercial de auditório Jair está dando força para a difusão do marxismo.  Claro que é absurdo dizer que Jair é um marxista revolucionário enrustido. Atenção, apavorado leitor, não sejamos malucos. Estará ele fomentando a luta de classes entre burguesia e proletariado?

Impressiona-me como está se falando de comunismo, socialismo e marxismo. Fala-se disso muito mais do que na época da Guerra Fria, isto é, na guerra de nervos.

Outro dia um chofer de taxi, conversa vai, conversa vem, perguntou-me o que é socialismo. Pasmo com a pergunta não lhe dei, no entando, o site Olavo Lava Égua Sado Anal Bolsonara, mas quis saber o motivo da pergunta. É que ele estava ouvindo falar muito disso com a notoriedade de Jair.

O que é comunismo?

Sem querer o capitão está ensejando a curiosidade sobre a revolução proletária, a despeito da escola sem partido.

O nome de Karl Marx é um espectro que ronda o chopinho do general Mourão jogando vôlei de praia.

A política reduzida a Lula e ódios pessoais é uma enfermidade infantil do esquerdismo. A patota empoderada na Barra da Tijuca acha que a história é feita por homens especiais, heróis de Carlyle, a exemplo dos hermanos bolsonarecos nascidos com a vocação weberiana para a política.

O herdeiro familiar de Roberto Campos está brilhando no Banco Central, cuja autonomia leva o Estado para o túmulo, advertiram Arturo Jauretche e Leonel Brizola.

Não vamos cair no engodo de reduzir a era Jair ao conflito entre fascismo e democracia. Afinal, a luta de classes é o ou não é o motor da história?

É preciso afastar o simplismo: civil é bom, militar é ruim. Trotsky no México apoiou o general Cárdenas, e em uma guerra apoiaria o Brasil de Getúlio Vargas contra a Inglaterra democrática de Wilson Churchill.

Há duas coisas que não podemos deixar de lado: a abordagem psicanalítica sobre o palácio da Tijuca e a expansão evangélica que está dando porrada na tradição afrotupi nos morros cariocas.

A luta de classes se dá entre o bispo Edir Macedo e Luís da Câmara Cascudo, o filósofo da teologia popular brasileira.

Quanto à libido sexualis de direita, inaugura o bolsonarismo uma nova etapa desde o integralismo da década de 30. O integralismo era a projeção alucinada de um Curupira nacionalista sem orifício e com ânus ocluso. 

Diferente do anauê de Plínio Salgado é a histerogenia de Janaína Pascoal ao entrar no teatro da política.

Escândalo lava-jato. Empenhada em tirar Dilma do poder, a professora de Direito Penal ficou conhecida na crônica jornalística como a mãe do diabo, posto que o diabo é um personagem masculino por excelência. O diabo não faz parte da doçura do seio feminino.

Tenho me perguntado em que região do corpo se concentra a performance anticorrupção. Provavelmente essa energia é de caráter anal defecativo mais que uretral e mamário. Há uma intensa auto-satisfação neste dualismo: eu, a gostosa incorruptível; os outros e as outras, imorais e desonestos. 

A escuta psicanalítica desde Sandor Ferenczi se interessa pelo estágio sado-anal com foco nas fezes e sua conexão com o dinheiro. O tesão de acumular grana. A prisão de ventre é erótica e implica a destruição do objeto. Junta-se retenção infantil das fezes com desejo crematistico. 

Sandor Ferenczi da Húngria foi considerado um psicanalista marxista e elogiado por Wilhelm Reich, o autor de A Psicologia de Massa do Fascismo. Que haja paralelismo e correspondência entre Janaína Pascoal e a fisionomia enrijecida dos pastores evangélicos não resta a menor dúvida.

Nas últimas eleições o pastor foi o guia. A psicologia de ambos está fundada no jejum, jejuno, jejunum, que significa vazio, magro, estreito, daí a conexão com o intestino. Jejunum intestinum.

A abstinência ou a fome faz repousar o órgão digestivo. Pode-se dizer que a direita evangélico-bolsonara está em contradição com a ideia da fartura do povo brasileiro acenada pelo folclore.

Viva a fartura que a miséria ninguém atura.

O intelectual sambista Ney Lopes encarna o povo fluminense, e não o Bishop capitalista Edir Macedo. A Igreja Universal do Reino de Deus é uma corporation multinacional. Importou dos Estados Unidos a teologia pentecostal da prosperidade depois de ter sido criada numa loja funerária em 1973 na Aveninda Suburbana.

Coincidência espantosa é que Edir Macedo com 17 anos foi contratado como servente da loteria do Estado da Guanabara. Loteria não deixa de ser a religião do dinheiro. Seu padrinho: Carlos Lacerda. Este é o político que está na base de toda a direita carioca, conforme informou Gunder Frank.

Carlos Lacerda na política e Roberto Campos na economia, os dois ilustres golpistas de 1964.
Edir Macedo com a sua televisão é responsável pela decadência psíquica e cultural das camadas pobres e oprimidas.

Umbanda é a religião brasileira com cabloco e preto velho, orixá, voduns, Cosme e Damião, os gêmeos oferecendo comidas, bebidas e doces. Caruru de Ibêji é a iguaria condenada pelos cultos evangélicos como manifestação demoníaca.

A direita é que gosta de andar com revólver no bolso. Luís da Câmara Cascudo antecipou a loucura agressiva da mucosa gástrica de Donald Trump: a paz é um fenômeno digestivo. 

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O que diria o poeta Pasolini about kit gay


Se houver apenas uma transa homossexual, isso não tira por si só o adolescente da condição heterossexual.

A tolerância em relação ao homossexual é um privilégio da elite culta. A massa popular é hostil à homossexualidade, que é um tabu engendrado pela fobia bíblica.

Pier Paolo Pasolini sublinhou a relação homossexual e política. Sua perseguição na Itália era mais de natureza política que sexual. Pasolini era marxista homossexual. Ele não fazia proselitismo sexual. É famosa sua declaração de que dois homossexuais fazendo amor é completamente diferente de um homossexual com um heterossexual. A homossexualidade é interclassista, pobre, rico e remediado. Ou senão proleta, subproleta, burguês, pequeno burguês.

Contratado a peso de dólar na Barra da Tijuca, tomando vinho branco com camarão seco, o gringo Steve Bannon sacou que o gênero, cuja discussão começou em 1975 na psicanálise dos EUA, iria dar copiosos frutos com a embromação “ideologia de gênero”.

Vamos enrolar aquele eleitorado cretino do Terceiro Mundo.

O trabalhador tem maior ojeriza que seu filho ou filha seja homossexual. As pessoas têm dificuldades de encarar a bissexualidade, por isso reprimem o homossexual. Realça-se que a bissexualidade orgânica não tem nada a ver com a psíquica. Há homossexualidade em homens viris e em mulheres de acentuada feminilidade.

O suposto “kit gay” atuou assim: o professor petista, perverso, insinua, provoca, engendra nas crianças o vício, a doença, o crime da homossexualidade.

Em termos eleitorais, de nada vale afirmar que a aversão ao homossexual mostra o temor de si mesmo pela homossexualidade.  Se a histeria anti-homossexual é reacionária, por outro lado deu-se enorme destaque para a passeata gay. Esta tornou-se um espetáculo fabricado pela indústria cultural para deixar em segundo plano a política e a luta de classes.

Cadê o proletariado reprimido sexualmente?  E as mulheres do povo privadas de amor, seja homossexual ou heterossexual? Fato é que não foi didatizada a contento a bissexualidade orgânica do ser humano.

Para o capitão que se apresentou viril e destemido, a homossexualidade é forjada nas escolas sob a influência de mestres degenerados pela “ideologia de gênero”. O surpreendente é que isso contribuiu para definir o resultado das eleições. O “kit gay”, além de petista, é travestismo. Os bolsonarianos identificaram petista com pederasta.

Goethe dizia que a pederastia é tão velha quanto a humanidade. Absurdo seria ver na câmara dos deputados uma campanha dirigida pela Janaina Pascoal reivindicando a extirpação cirúrgica da homossexualidade.

A psicanálise nos informou que as glândulas sexuais são condicionadas por questões psíquicas. Na maioria das vezes o homossexual é tido com um sujeito anômalo que se rebela contra o que é natural. O amor homossexual é o amor pelo amor.  É amar sem procriar, por isso é perseguido, por ser um amor anti-bíblia.

Afinal, há que se perguntar o que é a mulher bolsonaro. Terá ela ódio ao peito da mãe? O que quer uma mulher bolsonaro? Como caracterizar a mulher evangélica dentre todas as mulheres? Trata-se de um útero específico? A mulher bolsonaro parece não admitir que haja dominação do macho sobre a mulher nem que exista família patriarcal, tampouco ela se vê explorada na sociedade capitalista.

A mulher bolsonaro não está nem aí para a existência do trabalho doméstico não pago feito pelas mulheres. A mulher bolsonaro é despolitizada em seu corpo e alma. Ela não se envergonha de si ou é uma tremenda sadomasoca? Simbolicamente o que significa para a mulher bolsonaro o pênis bolsonaro? Não é de menor importância saber o que significa psiquicamente para ela o que seja o pênis bolsonaro.

Há muitos psicanalistas que encontram dificuldade em explicar o amor homossexual. Por que a homossexualidade tem sido tão perseguida? A homossexualidade masculina é mais proibida que a feminina. Esta é tolerada em função do olhar macho, cada vez mais fetichizado nas propagandas comerciais. 

A luta contra a homossexualidade começa com o judaísmo. Monoteísmo se confunde com monossexualidade. A Bíblia é hostil ao amor homossexual porque nele está ausente a procriação.

Na Grécia  era permitida e incentivada a homossexualidade, a não ser entre os escravos. Depois a Igreja Católica proibiu o amor entre pessoas do mesmo sexo.

É uma questão sexual o jejum em todas as religiões. O devoto evangélico homenageia o jeju, mas abomina a caridade. O jejum é egoico. O meu barato, o lance de todo religioso, é querer ir sozinho para o céu. Ganhar na loteria só para si. Lembro que Edir Macedo teve seu primeiro emprego numa lotérica. Foi aí que desabrochou a sua vocação videofinanceira abençoada por Deus.

Em todos os cultos o jejum desempenha a função de honrar o divino. O diabo não deixa de ser um fenômeno gastrodigestivo que envolve diarréia e prisão de ventre.

Depois de comer uma feijoada ninguém quer fazer guerra. Nem o Steve Bannon espiroqueta ketyxupi que comeu BigMac no Donald Trump.

É repugnante a língua portuguesa, falada e ouvida, nas igrejas evangélicas ensurdecedoras.

Os psicanalistas húngaros, como é o caso de Sándor Ferenczi, que foi marxista e admirado por Sigmund Freud, diziam que na infância tinha início a relação do falar com o defecar.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

What’s Prolebolsonariat?

Foto: cena do filme Armide (Lully) - Godard

Emergente Barra da Tijuca à beira-mar, condomínio kitschnouveauriche, automóvel black SUV, devotos fazendo vigílias sertanejas universitárias.

Mito! Mito! Mito!

A palavra “mito” diz que vem de “parmito” a designar um tabaréu alto e magro.

Linguajar agressivo como está ocorrendo em todo direita mundial. Que Lula apodreça na cadeia, logo será a vez de Haddad. Toda a esquerda banida do país. Ou sai ou é encarcerada. Suspeita-se que esse palavreado baixo nível seja teatro bonapartista e rentista.

É de Leon Trotsky, então com vinte e poucos anos de idade, a expressão parasitenproletariat a respeito de Friedrich Nietzsche que tinha acabado de falecer em 1900.

Parasitenproletariat é quem vive às expensas da sociedade. Ave de rapina. É o individualismo financeiro que despreza a massa e odeia qualquer tipo de assistencialismo ao fraco. Eis a frase de Nietzsche: nada é verdade e tudo é permitido.

Os comunistas estão ameaçados. O problema é que no eixo Rio-São Paulo devem existir aproximadamente cinco comunistas. Vasculhem as bibliotecas das Faculdades de Ciências Sociais. Vejam quantos autores marxistas existem por lá. Se muito, uns vinte gatos pingados.

Outros ameaçados são os catimbozeiros, os raizeiros, os umbandistas, os macumbeiros tidos como adversários a serem abatidos pelos gendarmes armados da Assembléia e Reino de Deus.

Vamos passar fogo nesta cambada supersticiosa estudada pelo folclore de Luis da Câmara Cascudo.

Os homossexuais, menos os ricos que os pobres, terão de comer o pão que o diabo amassou. Para os psicanalistas o desafio é saber como funciona a libido clérico-estupradora.

Na Câmara dos Deputados a advogada Janaína (alma feminina de Jair) é uma star histérica à Frederico Fellini sobre o capitalismo cyberzapy financeiro.

O que amedronta é a intolerância totalitária quanto ao “diferente”. O truculento Trump é menino de colo.

Os evangecos defendem a família e a propriedade, quer dizer, Deus, pátria e família. Os evangecos defendem mais a propriedade privada do que a família.

A propriedade privada é sagrada. Origina-se daí o tesão pelo revólver. Este é o pênis do capitalista judaico-cristão adorado por Steve Bannon enchendo a cara de vinho branco na Malásia e preparando algum algoritmo da maldade.

O cristão Jair fundamentalista foi batizado em 2016, Israel, onde bate o seu venerando coração sionista.

A população de saco cheio não é capaz no entanto de diagnosticar o mal-estar da civilização brasileira. O candidato machão com a retórica anti-sistema dá votos.

A gauchada prefere Hitler a Leonel Brizola.

Em Joaçaba Benito Mussolini é amado, não Rogério Sganzerla.

O inconsciente genocida medra sem constrangimento. Canudos. Guerra do Paraguai. Contestado.

No Instituto Millenium, amálgama de latinório com sangue escravo Liverpool, vestido de terno e gravata, Antônio das Mortes videoconferencia no celularaifone: é preciso eliminar 200 mil pobres e miseráveis numa democracia decente.

Peçam esclarecimento a um jornalista idôneo como Sérgio Dávila. A “imprensa burguesa”, como dizia ironicamente Otávio Frias Filho, a quem Claudio Abramo e eu lançamos no periodismo, entrevera-se com o presidente mimado pelo capital financeiro, Goldman Sachs, Santander, Ambev.

Iria meu amigo Claudio Abramo rir um bocado com o cotejo: a Folha de São Paulo para o Jair parasitenproletariat é o Iskra bolchevique.
Hasta cuando?

Maria Cristina Frias precisa se inteirar de que a Folha de São Paulo vai vender mais jornal e ganhar mais dinheiro se permanecer na oposição, não obstante os vagidos e balbucios crematísticos da Avenida Kansas Paulista.

Eu não vejo há 15 anos ninguém do meu círculo de amizade indo à banca de revista comprar a Folha de São Paulo. Isso diz muita coisa neste melancólico cenário decadente do periodismo brasileiro.


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Evangelical Gun Caridade Não Está Como Nada



A Igreja converte Cristo em valor de troca, ou seja, a fé é dinheiro. Todo fundador de Igreja, seja ele qual for, lembra SãoPaulo: gestor, burocrata, empreendedor. Dir-se-ia uma mistura de Edir e João Doria. São Paulo era um esquizofrênico, um neurótico submetido à dualidade: santo e padre, gênio e corrupto. O Vaticano não sacou na década de 60 que das 3 virtudes teologais a melhor era a caridade, não a fé nem a esperança.

O evangélico odeia a caridade porque essa virtude colide como   caráter   egoico   de   salvar-se   pelo  dinheiro   que   despreza   o sentimento de amor para com os pobres. O   barão   da   mídia   é  indissociável   do   Bishop   pregador   da esperança.

Adolf Hitler, que poderia ser um excelente pastor, não tinha nada a ver com caridade, e sim com a esperança e a fé. A   enorme   expansão   evangélica   é   o   resultado   do   caráter rentista e especulativo do atual capitalismo monopolista. Quando se abre uma igreja, adeus religião. Cada crente tem o seu Deus. É o Deus dele que não tem nada a ver com o meu. Então, o Deus é meu, pertence a mim, é minha propriedade. Deus é meu. Não é também Deus nosso. É Deus meu.

A igreja Universal do Reino de Deus é entusiasta de Israel. Vide no Rio de Janeiro o prefeito Crivella, que é um talentoso cantorsionista.

De Rockefeller a Henrique Meirelles o  desejo recôndito da filantropia   é   matar   todos   os   pobres,  que   são   os   verdadeiros responsáveis e causadores da pobreza. Invenção  típica  do  sistema  capitalista,   o  crédito  pressupõe que   o   homem   correto   é   aquele   que   paga.   Aí   está   no   fundo   o julgamento sobre a moralidade. Um homem rico dá crédito a um homem pobre supondo que este irá pagá-lo porque é um homem decente, e não um vagabundo sem vergonha e desonesto que não merece confiança.

Os   clérigos   e   os   magistrados   usam   palavras   pomposas   e pensamentos rasteiros. Basta perguntar para o volúvel e vaidoso Sérgio Moro se acredita ser a cadeia uma casa de correção moral.

- Doutor, aqui para nós, o senhor acha mesmo que a punição é capaz de melhorar o mundo?

O   direito   pop   do   Batman   de   Curitiba   é   o   direito   à desigualdade. Independentemente de Lula ter sido posto na masmorra, sabemos que todo julgamento é político, porque toda lei, em sua origem, é política. Juiz imparcial é mistificação.

No frasear do povo, cabeça de juiz é que nem coice de mula, ninguém sabe para onde vai. Sabe-se sim: vai é para o lado dos ricos e dos poderosos.

O que o crente preza é a fé, a fidúcia, a quem ou de quem se fia. Crédito origina-se da palavra crer, acreditar. O   instituto   de   crédito   por   excelência   é   o   banco.   Não   há diferença   entre   banco   e   igreja   evangélica.   O   credo   de   ambos, pastor e banqueiro, é menos Deus que grana. Pier Paolo Pasolini advertiu e não foi ouvido pelo Vaticano na década de 60: das três virtudes teologais a melhor é a caridade, não é a fé nem a esperança. Nazismo era fé e esperança, não existia caridade. Esta foi substituída pelo crédito: se quiser pode passar o cartão. Crédito ou débito.

O poeta Pasolini, o novo Dante da Itália, atacou São Paulo por ter fundado uma igreja, não uma religião. Fundou uma instituição, não uma mística. Misticismo e clericalismo não são a mesma coisa. A direita provém  da  organização  clerical.  Nada pior que um  fundador de igreja.

São Paulo era um esquizofrênico, um neurótico submetido à dualidade: santo e padre, gênio e corrupto. É falso afirmar que o problema dos últimos 10 anos consiste na politização da justiça. O   tudo   por   dinheiro   de   Silvio  Santos   não   é   diferente   da escandalosa telenovelização do judiciário, ainda que Sérgio Moro não seja Tarcísio Meira. 

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Siamo Tutti Perdonati Cacá Jabor FHC Merval Sadi Leitão Camarotti d’Ávila



O bolsonarismo é a financeirização da economia e o aviltamento da democracia.

O egípcio Samir Amim, há pouco falecido, chamou atenção para o perigo do fascismo em escala mundial.

A explicação da façanha bolsonariana é mais difícil de ser feita do que a saga de Collor.  Estamos vivendo a preeminência anacolútica da fala boçalizada do pastor evangélico fazendo a cabeça dos pobres coitados remediados.

Fernando Collor reportava-se ao marajá como causa primordial da miséria da pátria. Era o funcionário público demonizado na esfera política do Estado e da sociedade civil, enquanto Bolsonaro não faz menção ao regime econômico. Será verdade ou verossimilhança que o caucásico Paulo Guedes, devoto de Augusto Pinochet e amiguinho de mister Bannon, declarou ser analfabeto em economia?

Neste 2018 inauguramos a candidatura psicótica com jejum e castidade. É o retorno ao pior do medievo, embora o Brasil nunca tivesse tido Idade Média.

Desprovido de gramática, o capitão fala da continência dos instintos para se atingir a felicidade e ir direto para o céu. Da família a Deus.

Originário do interior de São Paulo, caipira da região de Campinas, ele se fez político no Rio de Janeiro, cidade pentecostal seduzida pelos pegureiros evangélicos cada vez mais ruidosos, trinta anos depois de Leonel Brizola.

A rede Globo foi conivente com o descenso psíquico e cultural do Rio de Janeiro. Os amigos de Glauber Rocha, Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, há muito não têm merecido elogios, mas agora tomaram tino diante da ameaça gangsterística.

E os filhos de Roberto Marinho? Nada. Os jornalistas da Globo News são todos lacaios e submissos.

Baixaria intelectual. Falam tudo errado com ignorância petulante. Cito Merval Pereira que identifica fascismo com comunismo.

Vai estudar, Merval.

Eu pressinto uma autofagia masoquista da TV Globo, que continua sendo inimiga de Leonel Brizola. Este um dia ponderou: “desastre para o Brasil se a Globo vender sua televisão para proprietários estrangeiros”. Reacionária, inimiga do trabalhismo, a favor da dominação externa e colonial, mas vendê-la seria muito pior, advertiu o grande caudilho do trabalhismo. Por isso não deixou de ir ao enterro do barão Roberto Marinho. A TV Globo, propriedade estrangeira, iria antecipar o triunvirato Bolsonaro, Edir Macedo e Murdoch.

Quem foi o responsável pela subida do Jair?

O PT tem responsabilidade?

Tem.

O PSDB tem responsabilidade?

Tem.

Todos os partidos políticos têm responsabilidade.

O povo acha que o dinheiro na cueca corrompida é o maior de nossos males, mas não o é.

O PT desmoralizou a capacidade revolucionária da classe operária.

Bolsonaro fala asneiras contra o socialismo e contra a Venezuela. Toda mundo ficou quietinho. Voltou o mar de lama de Getúlio Vargas vilipendiado pela UDN lacerdista.

Vejo-me, por circunstâncias objetivas alheias à minha vontade, elogiando Fernando Henrique Cardoso, Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, que adubaram o irracionalismo antipetista.

A direita se concilia com a esquerda que, por seu turno, perdoa-a. É o eterno retorno da churrascada canalha.

A entropia violenta de Bolsonaro é o fim da harmonia civil de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.

O fascismo surge na sociedade civil antes de tomar o Estado, ou seja, é o desejo cidadania de um Estado fascista.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Fascismo Kitsch condomínio da Tijuca


Cena do filme de Stanley Kubrick, Nascido para Matar

Agora a vez e a hora é a oposição ao bolsonarismo, tendo em mira que pela primeira vez depois da “abertura” o marxismo surge como adversário.

O “vai para Cuba” reatualiza o “ame ou deixe-o”.

Quem nunca antes ouviu falar em Carlos Marx e Frederico Engels, está ouvindo pela primeira vez. Ironia à parte, Bolsonero está divulgando o marxismo. A juventude pergunta: que bicho papão é esse? O irracionalismo em primeiro plano se fará pela repressão policial contra os intelectuais, os professores e as universidades.

O anti-intelectualismo será um dos traços essenciais da era Bolsonaro contra os direitos dos trabalhadores.

Paulo Guedes, o Chicago Boy banqueiro, não vai melhorar a situação das camadas populares.

Paulo Guedes (poderia ser Gustavo Franco da Garça’s House filiado ao Robertocampismo) é o banqueiro ditando para o capitão Jair o roteiro multinacional.

Ok ok ok ok ok ok.

Nenhuma novidade em relação às políticas econômicas anteriores. Vamos aprofundar a privatização.

Capitalismo de fisionomia desumana. Quanto ao bolsonapartismo ninguém pode precisar como será sua permanência no poder. Sarney vaticinou seis meses, vaticínio feito antes de sua filha, Roseana, ter bolsonado no Maranhão.

Cogita-se de um general Heleno para conter o esfalecimento da nação. O problema nas Forças Armadas é o repúdio entreguista contra Ernesto Geisel.

Haverá os intelectuais aduladores recitando os dias felizes em que o capitão lia as obras completas de Oscar Wilde.

O discurso segue o ritmo de parada militar com palavra de ordem. Discurso curto, incisivo para ser seguido sem pestanejar.

Marcha, soldado. Marcha, hermano evangélico.

Sir, yes, Sir.

Lembra a prosódia do filme de Stanley Kubrick Nascido para Matar.

Os herdeiros de Roberto Marinho já estão preparando a venda da TV Globo para Rupert Murdoch, talvez Edir Macedo.

Os filhos do doutor Marinho vão viver de renda em Miami. A jornalística Globo News sabe que inexiste “perigo cultural marxista”. Tampouco o Presidente acredita nisso. Está blefando, nem sabe o que significa marxismo, e muito menos cultural.

É arriscado esperar por uma entropia evangélica com a morte de Edir Macedo e o bafafá em torno de sua sucessão. Fato é que a mutação antropológica do homem brasileiro já está em curso. A cabeça evangélica foi preparada pela vacuidade telenovelística.

Repitamos com Pier Paolo Pasolini que denunciou a alma clérico-fascista. Estamos todos em perigo. Da ameaça à perseguição.

Na Itália o fascismo foi a idade do Kitsch. Há que se indagar sobre a estrutura lingüística e mental do bolsonarismo em que não há pietá, nenhum signo de compaixão. Em sua superestrutura psíquica o que prepondera é menos o desejo do que a aversão.

No dia da vitória eleitoral, acompanhada de um espalhafatoso pastor, o próximo chefe de Estado revira os olhos para o céu como um devoto em transe evangelical gun. Claro que isso tudo de mentirinha fazendo cena jogando para a plateia.

A difusão do medo foi uma estratégia eleitoral. Porrada, agressão, xingamento. Dando impressão de valentia, que é muitas vezes um jeito de esconder o temor.

Como é que uma coisa que não é nova pode ser tomada como novidade? O liberal Augusto Pinochet no Chile veio depois do golpe privatizante de 1964 consolidando institucionalmente o domínio das multinacionais no país.

A indústria da arma de fogo foi a primeira corporação moderna do capitalismo.

Cadê o Golbery do Jair?

Nem o fifósofo Olavo lava-égua será capaz de aceitar o papel de sub-Bannon da escatologia reacionária judaico-cristã.

Abaixo o Islã.

Abaixo o Manifesto do Partido Comunista.

Não esqueçam que a Câmara dos Deputados viciou o Jair na preguiça style. Duas décadas com deputança maré mansa.

Ainda que haja precedente (lembrem-se de Collor pop Rambo), não deixa de ser um produto recente com judiciário telenovelizado, motoca funkevangélica e programa de auditório, cujo star é Sergio Moro, o patético juiz de terninho apertado Superman grã-fino.

Se a família mata a família, como diz a psicanálise dialética, então é preciso tomar cuidado: somos vítimas de nossas virtudes familiares.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Conchavo TV Record e Globo na Feitura do Fasciogospelcolonial



Vitorioso Jair Bolsonaro, isso significa inegável hegemonia política da TV Record.

 Desfrutando da publicidade do Estado desde 1965, a Rede Globo agora está em fase terminal, não molda nem mais interfere na opinião pública. 

A dúvida que tenho sobre o globocídio é se essa interpretação não tem nada a ver com a direção da empresa, porquanto esta não cuida que a vitória de Bolsonaro seja um triunfo da TV Record. 

As duas empresas de comunicação parecem que estão se conchavando. Competição cordial e amigável, não antagônica do tipo ou uma ou outra. Inexiste aí luta de classes, tampouco facção de burguesia comercial defendendo seus interesses em termos de vida ou morte. 

O pragmático bom senso mercantil indica que é melhor perder terreno para o Bishop Macedo do que mexer na política oligárquica das comunicações. Acontece no entanto que os governos do PT não alteraram o status quo da comunicação, e provavelmente Haddad não irá fazer nada nesse setor que é vital para a verdadeira democracia, que exige a  interdição rigorosa de pesquisa eleitoral.

 A democracia é incompatível com as pesquisas mercenárias de intenção de voto. Ninguém até hoje respondeu a pergunta singela: qual é o valor de uso de tais pesquisas? Servem para quê?

Haveremos de convir que no fundo o capitão da reserva não deixa de ser grato por ter a TV Globo adubado o anti-petismo durante os últimos anos. A mídia identificou corrupção com o Partido dos Trabalhadores, ou seja, todo petista é venal. Não fosse assim, o líder do PT, Luis Inácio Lula, estaria livre e solto por aí e não condenado na masmorra de Sérgio Moro, o Batman de Curitiba. 

Embora não seja um personagem telegênico, bonitão de telenovela, Jair Bolsonaro representa na sub-cultura lacerdista do Rio de Janeiro um produto liberal made in TV Globo, ainda que não intencionalmente planejado como candidato, pois o ideal de ego desse canal televisivo foi Geraldo Alckmin, o picolé de chuchu de Pindamonhangaba. 

A psicologia de massa trata do inconsciente coletivo. A enfermidade Bolsonaro não é idiossincrática. Do escombro petista ou da oportunidade histórica perdida (conciliação com a burguesia tucanopemedebe) surgiu o bonapartista Bolsonaro com feição evangélico-fascistóide. 

A simbiose de moralismo, violência e pulsão de morte significa a identificação com o pênis do pai e o repúdio ao seio da mãe gentil. 

O signo Jair Bolsonaro na cultura brasileira é o matricídio, mas a personalidade dele não tem a menor importância. 

Que troço é esse de “mito”? Afinal, mito sem carisma não existe. Que tipo de desejo expressa o bolsonarismo? Simplesmente desejo de punição policial que acompanha a cruzada moralista pequeno burguesa? 

Observe-se que sua gagueira simbolicamente é afasia na política, isto é, uma língua que não fala. O badalado dispositivo do uatyzapy esconde a autoria. A inocência é apresentada como uma qualidade do rico e do privilegiado, e não do pobre como supõe os partidos de esquerda. 

Não esqueçam que os camponeses na Bolívia deduraram o guerrilheiro Che Guevara. 

O tempo da alienação não começou agora. 

Idolatra-se o ouvido motoqueiro barulhento, mas a repulsa neurótica ao silêncio foi cultuada antes de Bolsonaro surgir no pedaço. Repito. Antes de existir voto Bolsonaro existe o comportamento Bolsonaro. 

A divisa do matricídio na sociedade brasileira se deu com a derrota dos Cieps (Centros Integrados de Educação Pública). Estes foram recusados em 1986 pelo voto dado a Moreira Franco, o atual chefete bolsonariano da Casa Civil do Michel Temer. 

A mutação antropológica foi feita pela expansão videoevangélica com carrão importado bléqui SUV e pastor terno tergal. 

TV é fascismo, dizia Pier Paolo Pasolini na Itália. 

Quem produziu o código Bolsonaro foi a indústria cultural com o léxico de programa de auditório. 

O que leva um jovem pobre ou pequeno burguês a se tornar bolsonariano? Estalo volátil ou peste emocional? 

O PT nunca foi extrema esquerda, mas o bolsonarismo é sem dúvida extrema direita. 



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Adão & Eva na pepsia de Jair Bolsonaro contra a mordida da maçã



Tenho por intuição que o candidato Bolsonaro atingiu tal  persuasão não por causa da arma de fogo, da violência, da matança de bandido, da grossura discursiva típica de programa de auditório, do anticomunismo ou da venezofobia, e sim por causa do pânico insuflado em torno da homossexualidade, o que pressupõe a aversão ao onanismo infantil, ou melhor, o fantasma da masturbação na infância.

Segundo a ciência da sexualidade de Bolsonaro, que deve ter sido haurida em banheiros do Exército e nas sacristias castas de Igrejas, o sexo desponta no ser humano apenas na puberdade. Antes não há sexo, como antes da maçã de Adão e Eva, ou seja, a infância é um paraíso porque é assexual.

Se porventura a criança masturbar-se, de certo isso será resultante de eflúvios petistas disseminados em escolas laicas influenciadas pelo marxismo do louco Wilhelm Reich.

Professores degenerados merecem é o olho da rua, ou senão presos, incomunicáveis, torturados. São os professores tarados que querem tirar a inocência da infância colocando instintos sexuais nos corpos da gurizada. Parece a Idade Média, mas não é.

A inocência é a ausência de sexo identificado com pecado.

Em 2015, os psicanalistas Cybelle Weinberg e Manoel Tosta Berlinck estavam pensando na ciência bolsonara da sexualidade quando escreveram sobre o jejum religioso e a neurose anoréxica que persegue muitos jovens sob a influência da pós-modernidade publicitária.

Intelectuais da Igreja como Santo Agostinho, Padre Antônio Vieira, Tertuliano e Jerônimo exaltaram o jejum, a virgindade, o ascetismo, a castidade, o corpo emagrecido e o horror de comer e ser comido, enfim, enalteceram o instinto de morte, porquanto o corpo morto é o fundamento de toda religião.

A papagaiagem sobre coisa que não se sabe espalha-se de maneira impressionante, como é o caso da expressão “ideologia de gênero”. Ideologia já é uma palavra que para ser explicada o caboclo deve ler pelo menos uns 5000 livros. Acrescente-se “gênero”, aí então a semântica vai para o brejo.

Gênero na psicanálise é uma discussão introduzida nos Estados Unidos em 1975. Refere-se a um sentimento identitário, social e psíquico, que transcende a diferencia entre macho e fêmea.

Vejamos a equação que não está nos manuais de sexologia lidos pelo Doria, o Trumpinho bandeirante que reza o terço todas as manhãs. Eis a equação: homos=igual, héteros=diferente.

Em 1870, mais ou menos 85 anos antes de Jair Bolsonaro nascer em Campinas, a terra do grande Carlos Gomes, surgiu a palavra homossexualidade. Curioso é que poucos anos depois Freud preferisse usar a palavra bissexualidade.

Homossexual seria uma escolha psíquica, inconsciente, que estaria latente em todos heterossexuais. Portanto, não se pode separar em grupos humanos distintos o homo e o hétero.

Para Sigmund Freud, a homossexualidade não era vício nem motivo de vergonha. Muitos gênios foram homossexuais: Platão, Miguel Angelo, Leonardo DaVinci, Oscar Wilde, Marcel Proust, Pier Paolo Pasolini e Santos Dumont.

A homossexualidade não é doença nem crime. A tal da kuragay é uma neurose enrustida do Bishop Edir Macedo.  Inútil querer transformar um homossexual em um heterossexual. Enigmático para Freud era a homossexualidade feminina. Freud abordou mais o homossexual masculino.
A discussão sobre o gênero implica a igualdade do direito dos sexos. Homem e mulher são social e sexualmente iguais. A sexualidade é uma construção cultural, e não meramente anatômica.

Colonizado por Roliude nos filmes de guerra, Jair Bolsonaro seguiu o seu guru norte-americano Steve Bannon: vender mentiras e espalhar o terror, tal como sucedeu com o Trump vitorioso.

Pegou fundo a mentira sobre a inocência sexual infantil. Isso surtiu efeito: “estão querendo transformar todas as crianças em homossexuais e lésbicas”. Este brado moralista pegou no povo. É que o povo é moralista. Você não pode de uma hora para outra chegar no pai de família e falar que o filho dele é gay e achar que ele vai aceitar isso numa boa. Não vai.

Atenção: Bolsonaro não tem absolutamente nada contra a pornografia, porque a direita é pornográfica, assim como o sistema produtor de mercadoria chamado capitalismo.


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Bolsonaro Bolsonero that’s the question


Cena do filme Roma, de Pier Paolo Pasolini

Imperador Nero & capitão Bolsonaro

Bolsonero

Não é trocadilho

Tacar fogo no povo

Genocídio

Armas de Israel

Taca fogo na pretaiada

Taca fogo nas vadias

Taca fogo nos índios 

Adolf Hitler foi muito bem votado entre os protestantes. Talvez tenha sido mais votado, não entre os ricos e pobres, mas na classe média, ou seja, a pequena burguesia enlouquecida de que falava Leon Trotsky. Sem burguesia tosca, agressiva e pirada não existe fascismo.

A pequena burguesia semi-analfabeta é gente que freqüenta a barulheira dos arraiais evangélicos. Com Bolsonaro aumenta-se o barulho, a surdez motoca é valorizada, e na acústica já não é possível distinguir Globo e Record.

O bispado católico no Rio de Janeiro está passeando com Bolsonaro em carrões de luxo. A clivagem evangélico/católico não pode ser feita com base na grana e nos signos da realidade. É a feijoada católico-evangélica promovida pela financeirização do capital.

O Papa Francisco argentino foi escolhido para se opor a Edir Macedo cada vez mais na parada de sucesso na América Latina. Ele é odiado pela Igreja Universal do Reino de Deus e pelos correligionários de Bolsonaro. Os evangélicos são os “robôs do bem” e o Papa Francisco um bolchevique comunista perigosíssimo.

O Papa Francisco é tido como um marxista subversivo porque falou mal das desigualdades do capitalismo. Há quem diga que, baseado na teoria patriarcal da conciliação, a Igreja Católica não será derrotada com a vitória de Jair Bolsonaro. Certamente serão convivas no chá da cinco com glórias e louvores.

Não teve agito algum no Vaticano para mandar o Papa Francisco panfletar Copacabana contra o Bishop Edir Macedo. Não houve e não há e, talvez não haja em curto prazo, entrevero da teologia do povo com a teologia da prosperidade, que é a muleta do empreendedorismo de Bolsonaro e de Dória, o histérico anticomunista ex-prefeito de São Paulo.

Enganam-se aqueles que, por dentro do populismo nacionaloide de direita de Steve Bannon, supõem um regime militar com capitalismo de Estado. Nada disso. Bolsonaro é anti-Chávez.

O Capitão da Barra da Tijuca é um redivivo Dutra entusiasta do imperialismo norte-americano. Desconhece e despreza Simón Bolívar por este ter sido militar descolonizado. O bode expiatório de Steve Bannon é o Islã. O bode expiatório de Bolsonaro é a Venezuela.

Hugo Chávez teve apoio das Forças Armadas. Estas na Venezuela não padecem do anti-comunismo vulgar e obscurantista.

Demonizaram a Venezuela como um fantasma com medo do soldado brasileiro se empolgar pelo bolivarianismo.

Para mim Hugo Chávez é um personagem do cinema glauberiano. A Pátria-Grande de Bolívar era o que Glauber Rocha queria para as Forças Armadas em 1974, enviando recado para Ernesto Geisel. Viva o Exército como vanguarda do povo.

Os conhecedores do Exército brasileiro foram o marxista Nelson Werneck Sodré e o antiimperialista Bautista Vidal, que era amigo do brigadeiro nacionalista Sérgio Ferolla. Por conseguinte, eu não compartilho do preconceito anti-militar. Sou anti-militarista mas não sou anti-militar. Um país rico como o nosso não pode ficar desarmado.

Sem Simón Bolívar o Exército brasileiro é um Exército da ocupação imperialista. Entrevistem Cacá Diegues na Academia Brasileira de Letras para saber a oposição de Glauber Rocha às Forças Armadas udenizadas com o general Golbery do Couto e Silva plagiando a geopolítica imperialista do norte-americano Nicholas John Spykman.

O leviano João Dória atreve-se a dizer que a essência da democracia é a privatização. Quanto mais privatização e quanto menos burocracia mais decresce a corrupção. Essa sua palhaçada teórica revela que ele não foi aluno de Fernando Henrique Cardoso. Não aprendeu que a privatização correu solta com Hitler na Alemanha. Hitler desmantelou o Estado. Hitlerismo não é senão economia desestatizada. A essência do nazismo é a hipertrofia da privatização.

O ponto de partida da saga Bolsonaro é o 64 anti-brizolista. Atormentado com a barbárie na Alemanha, Theodor Adorno queria saber o motivo do voto dos alemães em Hitler, e foi buscar a gênese do nazismo na dialética do iluminismo que começa na Grécia de Homero.

Quem pavimentou a estrada de Jair Bolsonaro? Quem são os seus artífices culturais? Onde se encontra a tara posta em Bolsonaro?

Talvez no orgasmo da fome jejuado pela Igreja Universal Reino de Deus. Não esqueçam que Wilhelm Reich, em sua psicologia do fascismo, mostrou quão patológico era o desejo que votou na repressão de Hitler.

Terá chegado agora a hora de atualizar o passaporte?

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Os filhos pródigos de Roberto Marinho impassíveis diante da musa Bolsonaro


O desespero de muita gente é a vitória de Jair Bolsonaro, as mãos atadas dando o inequívoco sinal de que é irreversível seu caminho ao Palácio da Alvorada. Essa é justamente a função da pesquisa eleitoral: a de tirar a vontade de se opor e combater. Esse é o pior efeito da pesquisa eleitoral: deixar as pessoas resignadas, inertes, conformistas e de braços cruzados.

Schumpeter, adversário contumaz do marxismo, muito estimado teoricamente por Paul Sweezy, assinalou que as grandes corporações multinacionais não mantêm entre si competição, e sim uma relação correspectiva, o que significa que uma grande corporação multinacional não destrói a outra. O peixe grande papa o pequeno, mas o peixe grande convive numa boa com o peixe grande.

Subindo Jair Bolsonaro ao trono a Rede Globo terá necessariamente de ir para o tombo? O que se diz é que ele dará força para a rival (anúncios publicitários do Estado) da Rede Globo, a empresa Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da TV Record e admiradora de Steve Bannon, o gringo que não caiu do céu judaico-cristão e que é contratado em dólar para realizar pesquisas e orientar campanhas eleitorais.

Edir Macedo passeia tranqüilo e metidaço em Manhattan tanto quanto em Rio das Flores.

Haverá, para dizer com Schumpeter, uma umbilical correspectividade entre Record e Globo?

Nenhuma TV pode sofrer um declínio de anúncios e anunciantes, porquanto isso significa a morte da empresa de comunicação.

Audiência é dinheiro. Não foi por outro motivo que o general Golbery foi paparicado no Jardim Botânico em 1965, um ano depois da quartelada entreguista, que trouxe uma geopolítica midiática. Comunicação é guerra.

O celular não nasceu na lua dos cantadores e amantes.

A católica Rede Globo assiste à vitória evangélica da TV Record de maneira impassível. O patriarca

Roberto Marinho, um empresário supersticioso tal qual Assis Châteaubriant, poderá erguer-se da tumba e puxar os pés de seus resignados filhos que estão fugindo à luta.

Vale mais a pena vender a empresa do que suar a camisa para que ela continue existindo como propriedade dos Marinhos?

Há quem diga por aí que nessa campanha a “rede social” teria suplantado o papel da televisão. Debate não houve. Horário eleitoral gratuito pífio.

Ninguém está mais dando bola para o que aparece na televisão em época de eleição. Steve Bannon, amigo do marajá Rupert Murdoch, que é amigo de Donald Trump, deu a dica para Bolsonaro sobre a enganosa aparência idônea da mensagem cyberzap. Aí está segredo da persuasão popular no capitalismo videofinanceiro.

Cuidado com o apressado funeral televisivo: reduzindo a política a uma espécie de plantão policial, a TV Globo insuflou o anti-petismo, identificando corrupção com o partido dos trabalhadores. Para a direita todo petista é um bandido corrupto sem-vergonha ladrão descarado.

A TV criou o clima moralista neo-UDN para Bolsonaro surfar na maionese.

TV Globo e Bolsonaro, tudo a ver? Acrescente-se o PSDB playboy do Dória, o PT anti-brizolista e o PSOL pós-moderno se esgoelando no Canecão pop e tropicalista. Assim explica-se a emergência desse líder, que é desprovido de liderança, chamado Jair Messias Bolsonaro.

Não é a primeira vez que isso ocorre em nosso teatro político. Antes veio Fernando Collor, depois o passeio prussiano de Fernando Henrique Cardoso de cima para baixo com o Plano Real. Itamar Franco de Juiz de Fora turbinou as horas de vôo do candidato tucano.

Nada vem do nada. Não deixa no entanto de ser um escândalo um deputado, há 28 anos na Câmara, pulando de galho em galho nos partidos, conseguir essa quantidade incrível de votos.

Um homem de direita que não tem programa social, e que não faz a menor questão de não tê-lo. Dane-se. Uma campanha baseada exclusivamente na moralidade feita nos escombros do governo Temer, de quem ninguém falou a seu respeito no horário eleitoral televisivo.

O tiro saiu pela culatra. Quem deveria aproveitar-se do climatério anti-petista era o Alckmin, tão liberal quanto Bolsonaro. Fato é que este surgiu para bagunçar o plano da mídia dominante que apostou na vigência do petucanismo.

A TV Globo não é a favor do Haddad, mas ela não pode engrossar a conta bancária do Bishop Edir Macedo. A igreja evangélica está tomando o poder do Estado.

Os talentosos herdeiros de Roberto Marinho ainda não atinaram que a candidatura Haddad não é tão ruim para os seus interesses quanto o aventureiro Capitão da reserva.


domingo, 21 de outubro de 2018

Se a Rede Globo não For à Missa, o Cristo Redentor será Jairedirevangélico



É desagradável prantear o povo por ter mais uma vez embarcado no embuste da corrupção como a causa de nossa desgraça. Não é que a corrupção não deva ser combatida, porém a direita sempre faz uso dela para continuar se corrompendo.

Isso aconteceu com Getúlio Vargas em 54, com João Goulart em 64, e embora com outro perfil histórico, com Collor e Dilma. Isso poderá acontecer novamente com o voto em Jair Bolsonaro, que tem como diretriz ideológica negar a existência da ditadura de 1964 e afirmar que o movimento que derrubou Jango foi benéfico para o povo e a nação. A novidade é apresentar o golpe de 64 como um acontecimento benfazejo, positivo, que deve ser elogiado na história do Brasil.

Jair Messias Bolsonaro é o aprofundamento liberal reacionário da dependência do país. O que há de específico é que essa retomada da dependência pode ser conquistada pelo voto. Bolsonaro legitima a ilegitimidade da ditadura de 64.

O golpe de 64 foi esquecido pela onipresença cultural da televisão. A telenovela e os programas de auditório são entreguistas. O golpe de 64 não só deve ser esquecido como devem ser repudiadas as suas vítimas que não merecem apreço e nenhuma consideração humanística. Aplaude-se a derrubada de João Goulart do poder. Eis o desastroso significado histórico da eleição de Jair Bolsonaro. Enganam-se aqueles que acham que haverá oposição da imprensa.

A Veja está fazendo marola, querendo dinheiro, assim que consegui-lo sossegará o periquito. Daqui a pouco Bolsonaro vai ser condecorado herói nacional, um Caxias, um Tiradentes, convidado para ser colega na Academia Brasileira de Letras de Fernando Henrique Cardoso.

Os pruridos culturais serão desmanchados rapidamente em função do dinheiro e do poder. Dória, o trumpinho bandeirante, declara-se fervoroso adepto do bolsonarismo. É que no fundo em todo tucano existe um Jair Bolsonaro nadando nas águas do anticomunismo.

Não abusando da analogia, lembrei-me da escola de Frankfurt que foi buscar em Homero a gênese do nazi-fascismo. Dialética do Iluminismo. Fico eu aqui a matutar qual o ponto de partida que lança luz na façanha do Capitão da reserva. Para mim é o golpe de 64, e o que foi escrito sobre ele de maneira maliciosa, não só na historiografia universitária como também o comentário dos políticos que não o apoiaram, mas que têm afinidades eletivas com ele.

Não julgar e não ser julgado é impossível na história. O homem público, dizia Luis da Câmara Cascudo, é do público. O senhor Capitão saiu do anonimato da Câmara dos Deputados onde militou durante 28 anos para candidatar-se à Presidência da República.

Quem são os responsáveis por isso?

Estou com Pier Paolo Pasolini e não abro: a realidade é mais importante do que a verdade. Onde se encontra o enredo desse personagem que talvez comande e seja comandado pelo imperialismo durante alguns anos nosso país?

A força sub-cultural que o sustenta é a igreja evangélica. Traço aqui um ligeiro paralelo histórico: Hitler na Alemanha foi muito bem votado entre os protestantes. Nem tanto entre os ricos nem tanto entre os pobres, mas votado na classe média, a pequena burguesia enlouquecida de que falava Trotsky. O fascismo é um meio específico de organizar e mobilizar a pequena burguesia para fazer o jogo do capital financeiro.

As gentes que freqüentam a barulheira evangélica são formadas pela pequena burguesia que cravou o seu voto na “chapa fardada”, como escreveu o jornalista Hélio Fernandes.

Haverá verdadeira oposição entre evangélicos e católicos?

Pergunto isso porque os Bispos católicos estão andando em carros de luxo junto com Bolsonaro no Rio de Janeiro. Haverá realmente uma clivagem entre um e outro? Ou teremos uma feijoada católico-evangélica promovida pelo capital midiático? O pêndulo passa pela eleição de Bolsonaro ou o apoio a Haddad.

A Rede Globo vai resignar-se com o triunfo Bolsonaro da Record?

Há quem diga que o Papa argentino foi escolhido para conter a expansão de Edir Macedo na América Latina.

Eu não vi até agora o Vaticano movimentar-se para enviar o Papa para Copacabana a fim de derruir Bolsonaro com a missa rezada pela Rede Globo. Com isso estaria consubstanciado de fato o antagonismo entre a teologia católica do povo e a teologia protestante da prosperidade, que é o alicerce do empreendedorismo de Bolsonaro e Dória assoprado por Steve Bannon, o efêmero Rasputin videofinanceiro de Donald Trump.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Dória Trumpinho Bandeirante




A boçalidade é global.

Hitler também se dizia anti-establishment.

O antônimo de fascismo é a democracia burguesa, não o socialismo.

Que demagogo é João Dória? Hitler foi demagogo. Mas Dória, o ex-delfim do Alckmin, não leva o povo paulista a lugar algum.

A Gestapo hitlerista foi feita por gestores madrugadores.

Dória é absolutamente indiferente à pobreza, à opressão e à injustiça.

Não diviso cisma na burguesia bandeirante. A história dos tucanos é a crônica dos vencedores.

A burguesia bandeirante precisa de um muro da pobreza a separar São Paulo dos brasis pobres. O glamour enfático do boyzinho penteia o cabelo gestor bandeirante. Eis a morfologia fascista da celebridade televisiva.

Que tragédia é a “cultura da pós-verdade”!

O style Dória é o desprezo pelo passado. A história não rende voto. Fingir aquilo que não se é. De administrador de empresa a administrador do povo. Interessado mais nas galas que nos garis da prefeitura.

O juiz Sergio Moro é o seu cabo eleitoral. Espera-se que a plutocracia seja venerada nas favelas.

O lumpemproletariado quer virar pequeno burguês, empresário com esforço, tenacidade e muita reza.

Frequentando Igrejas mais do que lendo a bíblia.

Vamos vencer na vida.

No capitalismovideofinanceiro a primazia é do aparecer sob a substância. Parecer, e não ser. A persuasão para Dória não está na inteligência e sim no dinheiro.

Blandicioso em seu programa de vendas na televisão, lisonjeando, acariciando os grandes empresários, eis que de súbito Dória, prefeito, torna-se um aguerrido e valente guerreiro publicitário que deseja ver sepulcrados os derradeiros vestígios de Lula e do PT.

Capitalista que trabalha, Dória é o João trabalhador, o João ninguém, de que fala o samba. Nele a gestão é a administração do dinheiro, não o dinheiro.

Sua boca invariavelmente oclusa é a do capital onívoro. O dinheiro pode dormir durante certo tempo, mas Dória acorda cedo, madruga que nem subproletariado do Capão Redondo.

O manager cuida do capital do outro e divulga a ilusão de que a administração pode tirar o país da crise e o povo do pauperismo. Ele, o manager, o gestor, é a lâmpada de Aladim.

Para os deserdados mostra que a riqueza é fruto do trabalho e da poupança pessoal.

Poupe o salário, não coma, não beba, não vá ao botequim, ou senão entregue o dízimo à igreja para que você seja seu babaca retribuído no céu.

Dória e Edir Macedo são siameses no lidar com o dinheiro. Não é por acaso que Trump foi votado pelos evangélicos. O banking departament é a personificação do pastor convertido em gestor, ou vice-versa.

O agiota de Cristo é o pastor que fica rico sem nada produzir, por isso Edir Macedo e Dória são a
expressão do dinheiro como dinheiro.

Imitar o símile dos EUA. Essa imitação no entanto esbarra na situação subdesenvolvida do país.
São Paulo First. Piauí que se dane.

Há o perigo de um retorno do fascismo em escala mundial, que é diferente do fascismo clássico ocorrido na Itália e Alemanha.

O fascismo atual justifica a classe dominante que se apresenta como elite gerencial, cuja origem está na teoria das elites de James Burnham elaborada na década de 40, depois de ter sido trotskista na década de 30. Trotsky deu-lhe um chega para lá, botou ele para correr, sacou o seu reacionarismo antes de escrever A Revolução dos Gerentes sobre o ocaso da luta de classes e da contradição entre capitalismo e socialismo.

O conceito de privatização foi inventado por Hitler que privatizou todos os bancos da Alemanha.

Dória está de olho em Steve Bannon, o assessor endolarado de Bolsonaro, mas o gringo Bannon está de saco cheio de engabelar os brasileiros.

O fetichismo do gestor estava na teoria burguesa da dependência de FHC contra o marxista Gunder Frank, tido como um neurótico perdedor afeiçoado a dar murro em ponta de faca.

O eleitorado de São Paulo não foi idiotizado de uma hora para outra com o virago Janaína Paschoal. A coisa vem de longe. A mediocridade data da rixa dos jurisconsultos caretas e reprimidos do largo São Francisco contra os amantes Pagu e Oswald de Andrade.

O dia em que Bóris Casoy estava colocando Claudio Abramo para fora da Folha de São Paulo sem direito a misto-quente, eu perguntei-lhe: Claudio, por que você não dirige a TV Cultura?

- Isso é feudo do Abreu Sodré.

Jornalismo, Carlos Marx tinha razão, é menos imprensa do que empresa.

Meu saudoso amigo Claudio Abramo já não tinha mais lugar no jornalismo jabaculê.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Procura-se a peso de ouro um psicanalista que seja bolsonariano



O que está na desesperada preocupação de todas as pessoas esclarecidas e humanistas, não só aqui no Brasil mas em várias latitudes, diz respeito a uma psicogênese do bolsonarismo. O seu anti-petismo histérico é de conteúdo sexual e vai muito além de uma estratégia propagandística eleitoral. O seu anti-petismo é fisionômico que coloca no comportamento a insanidade da tribo. Um autêntico bolsonariano não quer ser curado em sua personalidade autoritária, como dizia Theodor Adorno.

“Ideologia de gênero”. Convém o leitor prestar bem atenção nesse sintagma vocalizado pela propaganda Bolsonaro nos meios de comunicação.  Que diabo é ideologia de gênero?

Lembro Monteiro Lobato: o povo só gosta daquilo que não entende. Evidentemente na patota Bolsonaro também não existe ninguém que saiba o que significa ideologia de gênero assoprada pelo Steve Bannon depois de um porre bem pago de uísque em Londres.

Votem em Bolsonaro porque ele combate sem tréguas a ideologia de gênero. Trata-se de um soldado que não poupa esforços para suprimir a maldita ideologia de gênero que está aniquilando a sagrada família brasileira. Quem é família é contra a ideologia de gênero. Quem compartilha da ideologia de gênero é inimigo da família, não quer a união de pai, mãe e filhos.

Para espanto meu, ouvi na rua a expressão “ideologia de gênero” dita por gente pobre e classe média. Será que é isso mesmo o que eu estou ouvindo? Porventura estarei tresvariando? Na Venezuela, terra amaldiçoada pela direita brasileira criminal, o filósofo marxista Ludovico Silva escreveu meia-dúzia de livros para explicar a semântica da palavra ideologia. Como é que um ágrafo bolsonariano usa e abusa desse vocábulo? Petulante, fazendo da ignorância uma virtude, este se acha o máximo por repetir coisas que não entende.

Aí eu comecei a perguntar o significado de gênero na literatura psicanalítica. Na rua fiz-me de besta. Um badameco completo. Aqui, meu caro, ideologia de gênio? Não, ideologia de gênero - de gerar, de dar o ser. Isso traz à psicanálise a teoria dualista com a diferença de sexos: feminino/masculino.

Jair Bolsonaro parece que está obsedado com a diferença anatômica entre os sexos. “A inocência da sala de aula”, repete ele com repugnância, é detonada pelo professor “petista” que manipula o desenvolvimento natural das crianças, homossexualizando-as com a “ideologia de gênero”. É essa barafunda sem pé nem cabeça que comove o eleitorado que quer manter a família inocente. A inocência de araque. Por fora bela viola por dentro pão bolorento.

Quem é Jair Bolsonaro para pontificar com sua ciência da sexualidade se o homem nasce homo ou heterossexual? Ele acusa os professores doutrinando homossexualidades nas salas de aula, dando por suposto e com má fé uma coisa que nunca existiu na pedagogia de qualquer país do mundo: “o kit gay”. É esse misterioso kit gay que faz com que o esfíncter anal ande para um lado e para o outro. A ciência bolsonara recusa o percurso da bissexualidade à homossexualidade. Seria fundir a cuca do Capitão ou de seu psicanalista correligionário perguntar sem rebuços: afinal, o que é a homossexualidade?

Telefonem para o Edir Macedo lá no Templo de Salomão. Queremos urgentemente uma resposta. A homossexualidade é uma enfermidade do espírito curável ou incurável? Fato é que a vida sexual do homem começa no feto e termina com sua morte. Sexofóbica, a Igreja Universal do Reino de Deus se debate com o falso dilema: extirpar a sexualidade infantil ou esquecê-la.

A criança é sagrada porque não tem sexo. O Bishop Edir Macedo não pensa diferente: o paraíso, do qual fomos expulsos com a maçã de Eva, é assexual. Resulta daí que o prazer carnal é prenhe de culpa trazendo o temor do castigo.

A pureza infantil é contaminada por intelectual “comunista”, sujo, perverso, tarado e maligno.
Para a sexologia bolsonara, a desgraça do sexo tem início na puberdade. Os colégios têm de ser vigiados. As crianças são sexualmente anárquicas. As crianças ainda não casaram.

A idade juvenil é a idade da homossexualidade. Na antiguidade o sexo ideal era o bissexual. Mulheres com pênis e homens com seios. A mulher com pênis e o homem com vagina. Reminiscência talvez disso seja o fato de os artistas em geral serem bissexuais.

O grande mal, segundo o sexólogo Jair Bolsonaro, é a escola tornar precoce a vida sexual. Merece xilindró quem afirmar que o onanismo começa logo nos primeiros dias depois do nascimento. Freud é um bandido por ter afirmado que todas as crianças são onanistas. Os fiscais do Bolsonaro são fiscais do onanismo infantil com culpa e angústia.

Todas as religiões combatem o onanismo, exceto as que existiram na Grécia de Platão. Que todo onanista seja queimado no inferno. Espermatozóide só no auditável matrimônio.

Sacrifique-se o prazer sexual para que a glória eterna seja atingida, assim como o onanismo é tido como a causa do homossexualismo. De porrete na mão um psicanalista bolsonariano não pode admitir que a bissexualidade seja congênita.



terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Papa Francisco está na Globo e o Bishop Edir Macedo é dono da Record


O alto escalão da Globo News está atônito. Intolerante à candidatura Haddad, mas injuriado com as investidas destemperadas de Jair Bolsonaro. A guerra midiática é contra a Record.

Nas ruas comenta-se que o Bolsonaro pimpão, ao não participar de debates, não está nem aí para a audiência da Rede Globo. O poder de persuasão desta teria entrado em colapso e isso envolve muita grana.

Cutucando o braço de Merval Pereira, Miriam Leitão chama a turma para uma conversa franca sob as ordens dos filhos do doutor Roberto Marinho. Nesta conversa Lenin é citado: o que fazer?  Haverá algo de novo? Convém não deslembrar que o último político a conflitar com a TV Globo foi Leonel Brizola, nacionalista e antiimperialista, mas prestem atenção no detalhe: o governador do Rio de Janeiro carecia de televisão e não tinha nenhum canal a seu dispor, diferente do que ocorre com o Capitão da Igreja Universal do Reino de Deus, que conta com o apoio do megafigurão da Record. O partido político de Leonel Brizola era fraco e pequeno, não tinha Igreja que funcionasse como curral eleitoral.

Nos arraiais semióticos da Universidade Federal de Santa Catarina comenta-se a novidade acerca do triunfo gospel dos crentes. O hedonismo telenovelístico da Globo está com os dias contados. A campanha Bolsonaro-Bannon tem por escopo promover a mensagem cyberzapy em detrimento do veículo televisão. Nos bastidores Jair Bolsonaro ridiculariza os herdeiros do doutor Roberto Marinho e os debates eleitorais.

Depois de meio século de maré mansa os proprietários da TV Globo são desafiados por um pequeno burguês aloprado. A Rede Globo não teria mais a capacidade em fazer a cabeça dos telespectadores. Os novos ricos proprietários de Igrejas e dos meios de comunicação entram na política para disputar o poder midiático. Os evangélicos estão de olho no judiciário. Este é volúvel e invariavelmente pende para lado do dinheiro.

Os filhos do doutor Roberto Marinho, incumbidos de preservar o patrimônio familiar que lhe foi transmitido, estão cientes de que neste embate Haddad versus Capitão não se trata apenas de uma batalha partidária, porquanto os crentes da TV Record, sobretudo no Rio de Janeiro, estão levando vantagens em relação aos católicos que reverenciam a Rede Globo e prestam lealdade ao Papa no Vaticano.

O Papa Francisco, com sua “teologia do povo”, condena a fratura bolsonara entre ciência e fé. É que o Bishop evangélico aboliu de vez a caridade. Que se danem os pobres.

Eis o quadro político midiático: enquanto a mensagem da Globo é volátil e imaterial, não sendo ampliada em determinado local físico, a Record se vale da mensagem eletrônica ancorada  em Templo e  Igreja com os devotos militantes. É por isso que a institucionalidade crente é muito mais eficaz que a persuasão da Globo, e essa persuasão não se faz com sutilezas teológicas entre protestantes e católicos.

Atente-se que a Igreja Evangélica do Reino de Deus nunca deixou de extrair dinheiro do povo, ou seja, a acumulação primitiva do capital foi feita pelo dízimo. Os fiéis e devotos anseiam por um messias salvacionista em meio a um Maracanã cheio de dinheiro.

O sistema evangélico não lida com o trabalho produtivo e a economia real, e sim com o aparato financeiro. É o comércio do dinheiro que dá dinheiro, ou seja, a trapaça do capital comercial. Capital-dinheiro.

Edir Macedo em sua vida já foi semi-lumpem-desclassado no interior do Rio de Janeiro. Começou trabalhando em loteria e se fez pela fala, pelo gogó, embora não fale e nem escreva bem.

Se porventura for eleito Jair Bolsonaro, tirando proveito de uma TV Globo benevolente e autofágica, Edir Macedo será um colega proustiano de Merval Pereira na Academia Brasileira de Letras.

A burguesia evangélica é pragmática e de inspiração anglo-saxônica. Diferente dos tucanos que falam para uma plateia suíça, os pastores semianalfabetos não se valem de uma linguagem tecnicista com léxico sociológico.

A vitória do ultra-populista de extrema direita pode ser a derrota histórica da Globo como TV hegemônica. E quanto a isso, a birra neurótica de Gerson Camarotti com o petismo bicho-papão não tem a menor importância. Com Jair Bolsonaro no Palácio a patota globonews perderá o emprego.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Jair, Edir e Bannon maracutaiam a festa dos pobres e oprimidos

Cena de Terra em Transe - Glauber Rocha

Da telenovela à Lava-Jato

Minha hipótese é que Bolsonaro inaugura uma nova etapa dos signos em rotação cyberzapycapytalysta. Seu cabo eleitoral não é a telenovela Fernando Collor, a cocaína dos pobres manufaturada pelos ricos.

Bolsonaro não saiu dos capítulos da telenovela, pelo menos das telenovelas made in Globo, que são hedonistas e afeiçoadas ao consumo conspícuo; ao contrário das telenovelas evangélicas que tematizam a Bíblia com recorte kitsch apelando para a antiguidade, não ambientadas no Rio de Janeiro com camelô e gurizada avião passando droga.

Sem querer chocar os pruridos da esquerda sentimental, eu diria que Bolsonaro é menos uma necessidade econômica da burguesia do que a expressão da decadência psíquica do pobre e do shopping classe média.

Que desejo a massa tem nele? Desejo de quê? Qual é o sentimento que se interpõe entre o Capitão e o seu eleitorado?

Pequeno burguês suburbano que se alfabetizou como paraquedista no Exército. Ele é o falso contra tudo, o candidato que quer ver o circo pegar fogo, se diz anti-sistema, mas mama na Câmara Federal há mais de 20 anos.

A sua programática é exterminar a massa excedentária, convencido da impossibilidade de incorporar essa força de trabalho no mercado. Inteiramente desprovido da ilusão da legalidade.

Apontar-lhe os erros e os vacilos linguísticos para detectar-lhe o vazio repleto de anacolutos de sua fala: quanto mais emite absurdos mais parece seduzir o eleitor. Chamem o Steve Bannon. Dinheiro não é o problema para nós. Pagamos o que ele pedir. O ex-Trump está desempregado. 

Não deve soar esdrúxulo dizer que Jair é hermano do Dória paulista, almofadinha da classe dominante que está fazendo campanha em São Paulo para o Capitão. Dória chifrou o seu padrinho Geraldo Alckmin. É o caso de perguntar se em todo tucano grã-fino e filho de papai não medra um Capitão soltando a franga a fim de tacar fogo na massa sobrante. Há um quadro aí de coerência na loucura. Por exemplo, o titio Edir Macedo lançou como palavra de ordem o seu filme contra tudo e contra todos, inspirando-se no Trump roliudiano.

O âmago da mensagem de Jair Bolsonaro é a moralidade e não a economia. Se ele vai enxugar ou não o Estado, se dará ou não atenção ao Pré-Sal, à política de grãos e à biomassa energética caso chegue à Presidência da República, pouco importa: o que realmente importa em sua campanha é o moralismo.

Seu discurso moralista está ancorado na questão da homossexualidade, colocando-se contra essa “liberalidade” de costumes e à permissividade homoafetiva. Nisso ataca os governos anteriores, principalmente os do PT quanto aos escândalos sexuais “promovidos pela escola” com o “kit gay” da infância. Nesse “kit”, segundo ele, o PT e o MEC estariam conjuntamente arquitetando um ataque à família, colocando uma norma homossexual nos materiais didáticos perversos.

Há a questão da falsa coragem. O cara rompe com sistema político, caubói valente, rebelde, anti-sistema, anti-establishment, talqualmente Fernando Collor em 1989, só que um Collor mais tosco e agressivo. Isso não é nenhuma novidade, pois Hitler e Mussolini se apresentaram como líderes anti-sistema. Hitler tomando cerveja nas tabernas de Berlim e Mussolini entusiasmado com os futuristas italianos.

Ao contrário de Collor que estudou em bons colégios na Europa e Estados Unidos, que se alimentou bem na infância, eugênico, televisível, filho de Senador da alta classe oligárquica do nordeste, Jair Bolsonaro é um tremendo provinciano, língua presa, pequeno burguês suburbano proveniente do interior de São Paulo. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro e, se não tivesse entrado para o Exército, não teria sido alfabetizado.

Sua deputança do ponto de vista cultural não o aprimorou em nada, continua sendo um personagem medíocre. A coragem de araque, isso de tocar fogo no circo persuade os incautos por causa do saco cheio que rola na sociedade brasileira. Essa insatisfação é confundida com as baixarias proferidas por Bolsonaro. É claro que os ricos sabem muito bem que ele não vai quebrar com nada, que isso é uma performance,  um show, que ele é um bom moço, obediente, não vai contrariar nenhum interesse da classe dominante.

Os pobres com certeza vão ficar mais pobres.