quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Conchavo TV Record e Globo na Feitura do Fasciogospelcolonial



Vitorioso Jair Bolsonaro, isso significa inegável hegemonia política da TV Record.

 Desfrutando da publicidade do Estado desde 1965, a Rede Globo agora está em fase terminal, não molda nem mais interfere na opinião pública. 

A dúvida que tenho sobre o globocídio é se essa interpretação não tem nada a ver com a direção da empresa, porquanto esta não cuida que a vitória de Bolsonaro seja um triunfo da TV Record. 

As duas empresas de comunicação parecem que estão se conchavando. Competição cordial e amigável, não antagônica do tipo ou uma ou outra. Inexiste aí luta de classes, tampouco facção de burguesia comercial defendendo seus interesses em termos de vida ou morte. 

O pragmático bom senso mercantil indica que é melhor perder terreno para o Bishop Macedo do que mexer na política oligárquica das comunicações. Acontece no entanto que os governos do PT não alteraram o status quo da comunicação, e provavelmente Haddad não irá fazer nada nesse setor que é vital para a verdadeira democracia, que exige a  interdição rigorosa de pesquisa eleitoral.

 A democracia é incompatível com as pesquisas mercenárias de intenção de voto. Ninguém até hoje respondeu a pergunta singela: qual é o valor de uso de tais pesquisas? Servem para quê?

Haveremos de convir que no fundo o capitão da reserva não deixa de ser grato por ter a TV Globo adubado o anti-petismo durante os últimos anos. A mídia identificou corrupção com o Partido dos Trabalhadores, ou seja, todo petista é venal. Não fosse assim, o líder do PT, Luis Inácio Lula, estaria livre e solto por aí e não condenado na masmorra de Sérgio Moro, o Batman de Curitiba. 

Embora não seja um personagem telegênico, bonitão de telenovela, Jair Bolsonaro representa na sub-cultura lacerdista do Rio de Janeiro um produto liberal made in TV Globo, ainda que não intencionalmente planejado como candidato, pois o ideal de ego desse canal televisivo foi Geraldo Alckmin, o picolé de chuchu de Pindamonhangaba. 

A psicologia de massa trata do inconsciente coletivo. A enfermidade Bolsonaro não é idiossincrática. Do escombro petista ou da oportunidade histórica perdida (conciliação com a burguesia tucanopemedebe) surgiu o bonapartista Bolsonaro com feição evangélico-fascistóide. 

A simbiose de moralismo, violência e pulsão de morte significa a identificação com o pênis do pai e o repúdio ao seio da mãe gentil. 

O signo Jair Bolsonaro na cultura brasileira é o matricídio, mas a personalidade dele não tem a menor importância. 

Que troço é esse de “mito”? Afinal, mito sem carisma não existe. Que tipo de desejo expressa o bolsonarismo? Simplesmente desejo de punição policial que acompanha a cruzada moralista pequeno burguesa? 

Observe-se que sua gagueira simbolicamente é afasia na política, isto é, uma língua que não fala. O badalado dispositivo do uatyzapy esconde a autoria. A inocência é apresentada como uma qualidade do rico e do privilegiado, e não do pobre como supõe os partidos de esquerda. 

Não esqueçam que os camponeses na Bolívia deduraram o guerrilheiro Che Guevara. 

O tempo da alienação não começou agora. 

Idolatra-se o ouvido motoqueiro barulhento, mas a repulsa neurótica ao silêncio foi cultuada antes de Bolsonaro surgir no pedaço. Repito. Antes de existir voto Bolsonaro existe o comportamento Bolsonaro. 

A divisa do matricídio na sociedade brasileira se deu com a derrota dos Cieps (Centros Integrados de Educação Pública). Estes foram recusados em 1986 pelo voto dado a Moreira Franco, o atual chefete bolsonariano da Casa Civil do Michel Temer. 

A mutação antropológica foi feita pela expansão videoevangélica com carrão importado bléqui SUV e pastor terno tergal. 

TV é fascismo, dizia Pier Paolo Pasolini na Itália. 

Quem produziu o código Bolsonaro foi a indústria cultural com o léxico de programa de auditório. 

O que leva um jovem pobre ou pequeno burguês a se tornar bolsonariano? Estalo volátil ou peste emocional? 

O PT nunca foi extrema esquerda, mas o bolsonarismo é sem dúvida extrema direita. 



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Adão & Eva na pepsia de Jair Bolsonaro contra a mordida da maçã



Tenho por intuição que o candidato Bolsonaro atingiu tal  persuasão não por causa da arma de fogo, da violência, da matança de bandido, da grossura discursiva típica de programa de auditório, do anticomunismo ou da venezofobia, e sim por causa do pânico insuflado em torno da homossexualidade, o que pressupõe a aversão ao onanismo infantil, ou melhor, o fantasma da masturbação na infância.

Segundo a ciência da sexualidade de Bolsonaro, que deve ter sido haurida em banheiros do Exército e nas sacristias castas de Igrejas, o sexo desponta no ser humano apenas na puberdade. Antes não há sexo, como antes da maçã de Adão e Eva, ou seja, a infância é um paraíso porque é assexual.

Se porventura a criança masturbar-se, de certo isso será resultante de eflúvios petistas disseminados em escolas laicas influenciadas pelo marxismo do louco Wilhelm Reich.

Professores degenerados merecem é o olho da rua, ou senão presos, incomunicáveis, torturados. São os professores tarados que querem tirar a inocência da infância colocando instintos sexuais nos corpos da gurizada. Parece a Idade Média, mas não é.

A inocência é a ausência de sexo identificado com pecado.

Em 2015, os psicanalistas Cybelle Weinberg e Manoel Tosta Berlinck estavam pensando na ciência bolsonara da sexualidade quando escreveram sobre o jejum religioso e a neurose anoréxica que persegue muitos jovens sob a influência da pós-modernidade publicitária.

Intelectuais da Igreja como Santo Agostinho, Padre Antônio Vieira, Tertuliano e Jerônimo exaltaram o jejum, a virgindade, o ascetismo, a castidade, o corpo emagrecido e o horror de comer e ser comido, enfim, enalteceram o instinto de morte, porquanto o corpo morto é o fundamento de toda religião.

A papagaiagem sobre coisa que não se sabe espalha-se de maneira impressionante, como é o caso da expressão “ideologia de gênero”. Ideologia já é uma palavra que para ser explicada o caboclo deve ler pelo menos uns 5000 livros. Acrescente-se “gênero”, aí então a semântica vai para o brejo.

Gênero na psicanálise é uma discussão introduzida nos Estados Unidos em 1975. Refere-se a um sentimento identitário, social e psíquico, que transcende a diferencia entre macho e fêmea.

Vejamos a equação que não está nos manuais de sexologia lidos pelo Doria, o Trumpinho bandeirante que reza o terço todas as manhãs. Eis a equação: homos=igual, héteros=diferente.

Em 1870, mais ou menos 85 anos antes de Jair Bolsonaro nascer em Campinas, a terra do grande Carlos Gomes, surgiu a palavra homossexualidade. Curioso é que poucos anos depois Freud preferisse usar a palavra bissexualidade.

Homossexual seria uma escolha psíquica, inconsciente, que estaria latente em todos heterossexuais. Portanto, não se pode separar em grupos humanos distintos o homo e o hétero.

Para Sigmund Freud, a homossexualidade não era vício nem motivo de vergonha. Muitos gênios foram homossexuais: Platão, Miguel Angelo, Leonardo DaVinci, Oscar Wilde, Marcel Proust, Pier Paolo Pasolini e Santos Dumont.

A homossexualidade não é doença nem crime. A tal da kuragay é uma neurose enrustida do Bishop Edir Macedo.  Inútil querer transformar um homossexual em um heterossexual. Enigmático para Freud era a homossexualidade feminina. Freud abordou mais o homossexual masculino.
A discussão sobre o gênero implica a igualdade do direito dos sexos. Homem e mulher são social e sexualmente iguais. A sexualidade é uma construção cultural, e não meramente anatômica.

Colonizado por Roliude nos filmes de guerra, Jair Bolsonaro seguiu o seu guru norte-americano Steve Bannon: vender mentiras e espalhar o terror, tal como sucedeu com o Trump vitorioso.

Pegou fundo a mentira sobre a inocência sexual infantil. Isso surtiu efeito: “estão querendo transformar todas as crianças em homossexuais e lésbicas”. Este brado moralista pegou no povo. É que o povo é moralista. Você não pode de uma hora para outra chegar no pai de família e falar que o filho dele é gay e achar que ele vai aceitar isso numa boa. Não vai.

Atenção: Bolsonaro não tem absolutamente nada contra a pornografia, porque a direita é pornográfica, assim como o sistema produtor de mercadoria chamado capitalismo.


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Bolsonaro Bolsonero that’s the question


Cena do filme Roma, de Pier Paolo Pasolini

Imperador Nero & capitão Bolsonaro

Bolsonero

Não é trocadilho

Tacar fogo no povo

Genocídio

Armas de Israel

Taca fogo na pretaiada

Taca fogo nas vadias

Taca fogo nos índios 

Adolf Hitler foi muito bem votado entre os protestantes. Talvez tenha sido mais votado, não entre os ricos e pobres, mas na classe média, ou seja, a pequena burguesia enlouquecida de que falava Leon Trotsky. Sem burguesia tosca, agressiva e pirada não existe fascismo.

A pequena burguesia semi-analfabeta é gente que freqüenta a barulheira dos arraiais evangélicos. Com Bolsonaro aumenta-se o barulho, a surdez motoca é valorizada, e na acústica já não é possível distinguir Globo e Record.

O bispado católico no Rio de Janeiro está passeando com Bolsonaro em carrões de luxo. A clivagem evangélico/católico não pode ser feita com base na grana e nos signos da realidade. É a feijoada católico-evangélica promovida pela financeirização do capital.

O Papa Francisco argentino foi escolhido para se opor a Edir Macedo cada vez mais na parada de sucesso na América Latina. Ele é odiado pela Igreja Universal do Reino de Deus e pelos correligionários de Bolsonaro. Os evangélicos são os “robôs do bem” e o Papa Francisco um bolchevique comunista perigosíssimo.

O Papa Francisco é tido como um marxista subversivo porque falou mal das desigualdades do capitalismo. Há quem diga que, baseado na teoria patriarcal da conciliação, a Igreja Católica não será derrotada com a vitória de Jair Bolsonaro. Certamente serão convivas no chá da cinco com glórias e louvores.

Não teve agito algum no Vaticano para mandar o Papa Francisco panfletar Copacabana contra o Bishop Edir Macedo. Não houve e não há e, talvez não haja em curto prazo, entrevero da teologia do povo com a teologia da prosperidade, que é a muleta do empreendedorismo de Bolsonaro e de Dória, o histérico anticomunista ex-prefeito de São Paulo.

Enganam-se aqueles que, por dentro do populismo nacionaloide de direita de Steve Bannon, supõem um regime militar com capitalismo de Estado. Nada disso. Bolsonaro é anti-Chávez.

O Capitão da Barra da Tijuca é um redivivo Dutra entusiasta do imperialismo norte-americano. Desconhece e despreza Simón Bolívar por este ter sido militar descolonizado. O bode expiatório de Steve Bannon é o Islã. O bode expiatório de Bolsonaro é a Venezuela.

Hugo Chávez teve apoio das Forças Armadas. Estas na Venezuela não padecem do anti-comunismo vulgar e obscurantista.

Demonizaram a Venezuela como um fantasma com medo do soldado brasileiro se empolgar pelo bolivarianismo.

Para mim Hugo Chávez é um personagem do cinema glauberiano. A Pátria-Grande de Bolívar era o que Glauber Rocha queria para as Forças Armadas em 1974, enviando recado para Ernesto Geisel. Viva o Exército como vanguarda do povo.

Os conhecedores do Exército brasileiro foram o marxista Nelson Werneck Sodré e o antiimperialista Bautista Vidal, que era amigo do brigadeiro nacionalista Sérgio Ferolla. Por conseguinte, eu não compartilho do preconceito anti-militar. Sou anti-militarista mas não sou anti-militar. Um país rico como o nosso não pode ficar desarmado.

Sem Simón Bolívar o Exército brasileiro é um Exército da ocupação imperialista. Entrevistem Cacá Diegues na Academia Brasileira de Letras para saber a oposição de Glauber Rocha às Forças Armadas udenizadas com o general Golbery do Couto e Silva plagiando a geopolítica imperialista do norte-americano Nicholas John Spykman.

O leviano João Dória atreve-se a dizer que a essência da democracia é a privatização. Quanto mais privatização e quanto menos burocracia mais decresce a corrupção. Essa sua palhaçada teórica revela que ele não foi aluno de Fernando Henrique Cardoso. Não aprendeu que a privatização correu solta com Hitler na Alemanha. Hitler desmantelou o Estado. Hitlerismo não é senão economia desestatizada. A essência do nazismo é a hipertrofia da privatização.

O ponto de partida da saga Bolsonaro é o 64 anti-brizolista. Atormentado com a barbárie na Alemanha, Theodor Adorno queria saber o motivo do voto dos alemães em Hitler, e foi buscar a gênese do nazismo na dialética do iluminismo que começa na Grécia de Homero.

Quem pavimentou a estrada de Jair Bolsonaro? Quem são os seus artífices culturais? Onde se encontra a tara posta em Bolsonaro?

Talvez no orgasmo da fome jejuado pela Igreja Universal Reino de Deus. Não esqueçam que Wilhelm Reich, em sua psicologia do fascismo, mostrou quão patológico era o desejo que votou na repressão de Hitler.

Terá chegado agora a hora de atualizar o passaporte?

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Os filhos pródigos de Roberto Marinho impassíveis diante da musa Bolsonaro


O desespero de muita gente é a vitória de Jair Bolsonaro, as mãos atadas dando o inequívoco sinal de que é irreversível seu caminho ao Palácio da Alvorada. Essa é justamente a função da pesquisa eleitoral: a de tirar a vontade de se opor e combater. Esse é o pior efeito da pesquisa eleitoral: deixar as pessoas resignadas, inertes, conformistas e de braços cruzados.

Schumpeter, adversário contumaz do marxismo, muito estimado teoricamente por Paul Sweezy, assinalou que as grandes corporações multinacionais não mantêm entre si competição, e sim uma relação correspectiva, o que significa que uma grande corporação multinacional não destrói a outra. O peixe grande papa o pequeno, mas o peixe grande convive numa boa com o peixe grande.

Subindo Jair Bolsonaro ao trono a Rede Globo terá necessariamente de ir para o tombo? O que se diz é que ele dará força para a rival (anúncios publicitários do Estado) da Rede Globo, a empresa Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da TV Record e admiradora de Steve Bannon, o gringo que não caiu do céu judaico-cristão e que é contratado em dólar para realizar pesquisas e orientar campanhas eleitorais.

Edir Macedo passeia tranqüilo e metidaço em Manhattan tanto quanto em Rio das Flores.

Haverá, para dizer com Schumpeter, uma umbilical correspectividade entre Record e Globo?

Nenhuma TV pode sofrer um declínio de anúncios e anunciantes, porquanto isso significa a morte da empresa de comunicação.

Audiência é dinheiro. Não foi por outro motivo que o general Golbery foi paparicado no Jardim Botânico em 1965, um ano depois da quartelada entreguista, que trouxe uma geopolítica midiática. Comunicação é guerra.

O celular não nasceu na lua dos cantadores e amantes.

A católica Rede Globo assiste à vitória evangélica da TV Record de maneira impassível. O patriarca

Roberto Marinho, um empresário supersticioso tal qual Assis Châteaubriant, poderá erguer-se da tumba e puxar os pés de seus resignados filhos que estão fugindo à luta.

Vale mais a pena vender a empresa do que suar a camisa para que ela continue existindo como propriedade dos Marinhos?

Há quem diga por aí que nessa campanha a “rede social” teria suplantado o papel da televisão. Debate não houve. Horário eleitoral gratuito pífio.

Ninguém está mais dando bola para o que aparece na televisão em época de eleição. Steve Bannon, amigo do marajá Rupert Murdoch, que é amigo de Donald Trump, deu a dica para Bolsonaro sobre a enganosa aparência idônea da mensagem cyberzap. Aí está segredo da persuasão popular no capitalismo videofinanceiro.

Cuidado com o apressado funeral televisivo: reduzindo a política a uma espécie de plantão policial, a TV Globo insuflou o anti-petismo, identificando corrupção com o partido dos trabalhadores. Para a direita todo petista é um bandido corrupto sem-vergonha ladrão descarado.

A TV criou o clima moralista neo-UDN para Bolsonaro surfar na maionese.

TV Globo e Bolsonaro, tudo a ver? Acrescente-se o PSDB playboy do Dória, o PT anti-brizolista e o PSOL pós-moderno se esgoelando no Canecão pop e tropicalista. Assim explica-se a emergência desse líder, que é desprovido de liderança, chamado Jair Messias Bolsonaro.

Não é a primeira vez que isso ocorre em nosso teatro político. Antes veio Fernando Collor, depois o passeio prussiano de Fernando Henrique Cardoso de cima para baixo com o Plano Real. Itamar Franco de Juiz de Fora turbinou as horas de vôo do candidato tucano.

Nada vem do nada. Não deixa no entanto de ser um escândalo um deputado, há 28 anos na Câmara, pulando de galho em galho nos partidos, conseguir essa quantidade incrível de votos.

Um homem de direita que não tem programa social, e que não faz a menor questão de não tê-lo. Dane-se. Uma campanha baseada exclusivamente na moralidade feita nos escombros do governo Temer, de quem ninguém falou a seu respeito no horário eleitoral televisivo.

O tiro saiu pela culatra. Quem deveria aproveitar-se do climatério anti-petista era o Alckmin, tão liberal quanto Bolsonaro. Fato é que este surgiu para bagunçar o plano da mídia dominante que apostou na vigência do petucanismo.

A TV Globo não é a favor do Haddad, mas ela não pode engrossar a conta bancária do Bishop Edir Macedo. A igreja evangélica está tomando o poder do Estado.

Os talentosos herdeiros de Roberto Marinho ainda não atinaram que a candidatura Haddad não é tão ruim para os seus interesses quanto o aventureiro Capitão da reserva.


domingo, 21 de outubro de 2018

Se a Rede Globo não For à Missa, o Cristo Redentor será Jairedirevangélico



É desagradável prantear o povo por ter mais uma vez embarcado no embuste da corrupção como a causa de nossa desgraça. Não é que a corrupção não deva ser combatida, porém a direita sempre faz uso dela para continuar se corrompendo.

Isso aconteceu com Getúlio Vargas em 54, com João Goulart em 64, e embora com outro perfil histórico, com Collor e Dilma. Isso poderá acontecer novamente com o voto em Jair Bolsonaro, que tem como diretriz ideológica negar a existência da ditadura de 1964 e afirmar que o movimento que derrubou Jango foi benéfico para o povo e a nação. A novidade é apresentar o golpe de 64 como um acontecimento benfazejo, positivo, que deve ser elogiado na história do Brasil.

Jair Messias Bolsonaro é o aprofundamento liberal reacionário da dependência do país. O que há de específico é que essa retomada da dependência pode ser conquistada pelo voto. Bolsonaro legitima a ilegitimidade da ditadura de 64.

O golpe de 64 foi esquecido pela onipresença cultural da televisão. A telenovela e os programas de auditório são entreguistas. O golpe de 64 não só deve ser esquecido como devem ser repudiadas as suas vítimas que não merecem apreço e nenhuma consideração humanística. Aplaude-se a derrubada de João Goulart do poder. Eis o desastroso significado histórico da eleição de Jair Bolsonaro. Enganam-se aqueles que acham que haverá oposição da imprensa.

A Veja está fazendo marola, querendo dinheiro, assim que consegui-lo sossegará o periquito. Daqui a pouco Bolsonaro vai ser condecorado herói nacional, um Caxias, um Tiradentes, convidado para ser colega na Academia Brasileira de Letras de Fernando Henrique Cardoso.

Os pruridos culturais serão desmanchados rapidamente em função do dinheiro e do poder. Dória, o trumpinho bandeirante, declara-se fervoroso adepto do bolsonarismo. É que no fundo em todo tucano existe um Jair Bolsonaro nadando nas águas do anticomunismo.

Não abusando da analogia, lembrei-me da escola de Frankfurt que foi buscar em Homero a gênese do nazi-fascismo. Dialética do Iluminismo. Fico eu aqui a matutar qual o ponto de partida que lança luz na façanha do Capitão da reserva. Para mim é o golpe de 64, e o que foi escrito sobre ele de maneira maliciosa, não só na historiografia universitária como também o comentário dos políticos que não o apoiaram, mas que têm afinidades eletivas com ele.

Não julgar e não ser julgado é impossível na história. O homem público, dizia Luis da Câmara Cascudo, é do público. O senhor Capitão saiu do anonimato da Câmara dos Deputados onde militou durante 28 anos para candidatar-se à Presidência da República.

Quem são os responsáveis por isso?

Estou com Pier Paolo Pasolini e não abro: a realidade é mais importante do que a verdade. Onde se encontra o enredo desse personagem que talvez comande e seja comandado pelo imperialismo durante alguns anos nosso país?

A força sub-cultural que o sustenta é a igreja evangélica. Traço aqui um ligeiro paralelo histórico: Hitler na Alemanha foi muito bem votado entre os protestantes. Nem tanto entre os ricos nem tanto entre os pobres, mas votado na classe média, a pequena burguesia enlouquecida de que falava Trotsky. O fascismo é um meio específico de organizar e mobilizar a pequena burguesia para fazer o jogo do capital financeiro.

As gentes que freqüentam a barulheira evangélica são formadas pela pequena burguesia que cravou o seu voto na “chapa fardada”, como escreveu o jornalista Hélio Fernandes.

Haverá verdadeira oposição entre evangélicos e católicos?

Pergunto isso porque os Bispos católicos estão andando em carros de luxo junto com Bolsonaro no Rio de Janeiro. Haverá realmente uma clivagem entre um e outro? Ou teremos uma feijoada católico-evangélica promovida pelo capital midiático? O pêndulo passa pela eleição de Bolsonaro ou o apoio a Haddad.

A Rede Globo vai resignar-se com o triunfo Bolsonaro da Record?

Há quem diga que o Papa argentino foi escolhido para conter a expansão de Edir Macedo na América Latina.

Eu não vi até agora o Vaticano movimentar-se para enviar o Papa para Copacabana a fim de derruir Bolsonaro com a missa rezada pela Rede Globo. Com isso estaria consubstanciado de fato o antagonismo entre a teologia católica do povo e a teologia protestante da prosperidade, que é o alicerce do empreendedorismo de Bolsonaro e Dória assoprado por Steve Bannon, o efêmero Rasputin videofinanceiro de Donald Trump.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Dória Trumpinho Bandeirante




A boçalidade é global.

Hitler também se dizia anti-establishment.

O antônimo de fascismo é a democracia burguesa, não o socialismo.

Que demagogo é João Dória? Hitler foi demagogo. Mas Dória, o ex-delfim do Alckmin, não leva o povo paulista a lugar algum.

A Gestapo hitlerista foi feita por gestores madrugadores.

Dória é absolutamente indiferente à pobreza, à opressão e à injustiça.

Não diviso cisma na burguesia bandeirante. A história dos tucanos é a crônica dos vencedores.

A burguesia bandeirante precisa de um muro da pobreza a separar São Paulo dos brasis pobres. O glamour enfático do boyzinho penteia o cabelo gestor bandeirante. Eis a morfologia fascista da celebridade televisiva.

Que tragédia é a “cultura da pós-verdade”!

O style Dória é o desprezo pelo passado. A história não rende voto. Fingir aquilo que não se é. De administrador de empresa a administrador do povo. Interessado mais nas galas que nos garis da prefeitura.

O juiz Sergio Moro é o seu cabo eleitoral. Espera-se que a plutocracia seja venerada nas favelas.

O lumpemproletariado quer virar pequeno burguês, empresário com esforço, tenacidade e muita reza.

Frequentando Igrejas mais do que lendo a bíblia.

Vamos vencer na vida.

No capitalismovideofinanceiro a primazia é do aparecer sob a substância. Parecer, e não ser. A persuasão para Dória não está na inteligência e sim no dinheiro.

Blandicioso em seu programa de vendas na televisão, lisonjeando, acariciando os grandes empresários, eis que de súbito Dória, prefeito, torna-se um aguerrido e valente guerreiro publicitário que deseja ver sepulcrados os derradeiros vestígios de Lula e do PT.

Capitalista que trabalha, Dória é o João trabalhador, o João ninguém, de que fala o samba. Nele a gestão é a administração do dinheiro, não o dinheiro.

Sua boca invariavelmente oclusa é a do capital onívoro. O dinheiro pode dormir durante certo tempo, mas Dória acorda cedo, madruga que nem subproletariado do Capão Redondo.

O manager cuida do capital do outro e divulga a ilusão de que a administração pode tirar o país da crise e o povo do pauperismo. Ele, o manager, o gestor, é a lâmpada de Aladim.

Para os deserdados mostra que a riqueza é fruto do trabalho e da poupança pessoal.

Poupe o salário, não coma, não beba, não vá ao botequim, ou senão entregue o dízimo à igreja para que você seja seu babaca retribuído no céu.

Dória e Edir Macedo são siameses no lidar com o dinheiro. Não é por acaso que Trump foi votado pelos evangélicos. O banking departament é a personificação do pastor convertido em gestor, ou vice-versa.

O agiota de Cristo é o pastor que fica rico sem nada produzir, por isso Edir Macedo e Dória são a
expressão do dinheiro como dinheiro.

Imitar o símile dos EUA. Essa imitação no entanto esbarra na situação subdesenvolvida do país.
São Paulo First. Piauí que se dane.

Há o perigo de um retorno do fascismo em escala mundial, que é diferente do fascismo clássico ocorrido na Itália e Alemanha.

O fascismo atual justifica a classe dominante que se apresenta como elite gerencial, cuja origem está na teoria das elites de James Burnham elaborada na década de 40, depois de ter sido trotskista na década de 30. Trotsky deu-lhe um chega para lá, botou ele para correr, sacou o seu reacionarismo antes de escrever A Revolução dos Gerentes sobre o ocaso da luta de classes e da contradição entre capitalismo e socialismo.

O conceito de privatização foi inventado por Hitler que privatizou todos os bancos da Alemanha.

Dória está de olho em Steve Bannon, o assessor endolarado de Bolsonaro, mas o gringo Bannon está de saco cheio de engabelar os brasileiros.

O fetichismo do gestor estava na teoria burguesa da dependência de FHC contra o marxista Gunder Frank, tido como um neurótico perdedor afeiçoado a dar murro em ponta de faca.

O eleitorado de São Paulo não foi idiotizado de uma hora para outra com o virago Janaína Paschoal. A coisa vem de longe. A mediocridade data da rixa dos jurisconsultos caretas e reprimidos do largo São Francisco contra os amantes Pagu e Oswald de Andrade.

O dia em que Bóris Casoy estava colocando Claudio Abramo para fora da Folha de São Paulo sem direito a misto-quente, eu perguntei-lhe: Claudio, por que você não dirige a TV Cultura?

- Isso é feudo do Abreu Sodré.

Jornalismo, Carlos Marx tinha razão, é menos imprensa do que empresa.

Meu saudoso amigo Claudio Abramo já não tinha mais lugar no jornalismo jabaculê.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Procura-se a peso de ouro um psicanalista que seja bolsonariano



O que está na desesperada preocupação de todas as pessoas esclarecidas e humanistas, não só aqui no Brasil mas em várias latitudes, diz respeito a uma psicogênese do bolsonarismo. O seu anti-petismo histérico é de conteúdo sexual e vai muito além de uma estratégia propagandística eleitoral. O seu anti-petismo é fisionômico que coloca no comportamento a insanidade da tribo. Um autêntico bolsonariano não quer ser curado em sua personalidade autoritária, como dizia Theodor Adorno.

“Ideologia de gênero”. Convém o leitor prestar bem atenção nesse sintagma vocalizado pela propaganda Bolsonaro nos meios de comunicação.  Que diabo é ideologia de gênero?

Lembro Monteiro Lobato: o povo só gosta daquilo que não entende. Evidentemente na patota Bolsonaro também não existe ninguém que saiba o que significa ideologia de gênero assoprada pelo Steve Bannon depois de um porre bem pago de uísque em Londres.

Votem em Bolsonaro porque ele combate sem tréguas a ideologia de gênero. Trata-se de um soldado que não poupa esforços para suprimir a maldita ideologia de gênero que está aniquilando a sagrada família brasileira. Quem é família é contra a ideologia de gênero. Quem compartilha da ideologia de gênero é inimigo da família, não quer a união de pai, mãe e filhos.

Para espanto meu, ouvi na rua a expressão “ideologia de gênero” dita por gente pobre e classe média. Será que é isso mesmo o que eu estou ouvindo? Porventura estarei tresvariando? Na Venezuela, terra amaldiçoada pela direita brasileira criminal, o filósofo marxista Ludovico Silva escreveu meia-dúzia de livros para explicar a semântica da palavra ideologia. Como é que um ágrafo bolsonariano usa e abusa desse vocábulo? Petulante, fazendo da ignorância uma virtude, este se acha o máximo por repetir coisas que não entende.

Aí eu comecei a perguntar o significado de gênero na literatura psicanalítica. Na rua fiz-me de besta. Um badameco completo. Aqui, meu caro, ideologia de gênio? Não, ideologia de gênero - de gerar, de dar o ser. Isso traz à psicanálise a teoria dualista com a diferença de sexos: feminino/masculino.

Jair Bolsonaro parece que está obsedado com a diferença anatômica entre os sexos. “A inocência da sala de aula”, repete ele com repugnância, é detonada pelo professor “petista” que manipula o desenvolvimento natural das crianças, homossexualizando-as com a “ideologia de gênero”. É essa barafunda sem pé nem cabeça que comove o eleitorado que quer manter a família inocente. A inocência de araque. Por fora bela viola por dentro pão bolorento.

Quem é Jair Bolsonaro para pontificar com sua ciência da sexualidade se o homem nasce homo ou heterossexual? Ele acusa os professores doutrinando homossexualidades nas salas de aula, dando por suposto e com má fé uma coisa que nunca existiu na pedagogia de qualquer país do mundo: “o kit gay”. É esse misterioso kit gay que faz com que o esfíncter anal ande para um lado e para o outro. A ciência bolsonara recusa o percurso da bissexualidade à homossexualidade. Seria fundir a cuca do Capitão ou de seu psicanalista correligionário perguntar sem rebuços: afinal, o que é a homossexualidade?

Telefonem para o Edir Macedo lá no Templo de Salomão. Queremos urgentemente uma resposta. A homossexualidade é uma enfermidade do espírito curável ou incurável? Fato é que a vida sexual do homem começa no feto e termina com sua morte. Sexofóbica, a Igreja Universal do Reino de Deus se debate com o falso dilema: extirpar a sexualidade infantil ou esquecê-la.

A criança é sagrada porque não tem sexo. O Bishop Edir Macedo não pensa diferente: o paraíso, do qual fomos expulsos com a maçã de Eva, é assexual. Resulta daí que o prazer carnal é prenhe de culpa trazendo o temor do castigo.

A pureza infantil é contaminada por intelectual “comunista”, sujo, perverso, tarado e maligno.
Para a sexologia bolsonara, a desgraça do sexo tem início na puberdade. Os colégios têm de ser vigiados. As crianças são sexualmente anárquicas. As crianças ainda não casaram.

A idade juvenil é a idade da homossexualidade. Na antiguidade o sexo ideal era o bissexual. Mulheres com pênis e homens com seios. A mulher com pênis e o homem com vagina. Reminiscência talvez disso seja o fato de os artistas em geral serem bissexuais.

O grande mal, segundo o sexólogo Jair Bolsonaro, é a escola tornar precoce a vida sexual. Merece xilindró quem afirmar que o onanismo começa logo nos primeiros dias depois do nascimento. Freud é um bandido por ter afirmado que todas as crianças são onanistas. Os fiscais do Bolsonaro são fiscais do onanismo infantil com culpa e angústia.

Todas as religiões combatem o onanismo, exceto as que existiram na Grécia de Platão. Que todo onanista seja queimado no inferno. Espermatozóide só no auditável matrimônio.

Sacrifique-se o prazer sexual para que a glória eterna seja atingida, assim como o onanismo é tido como a causa do homossexualismo. De porrete na mão um psicanalista bolsonariano não pode admitir que a bissexualidade seja congênita.



terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Papa Francisco está na Globo e o Bishop Edir Macedo é dono da Record


O alto escalão da Globo News está atônito. Intolerante à candidatura Haddad, mas injuriado com as investidas destemperadas de Jair Bolsonaro. A guerra midiática é contra a Record.

Nas ruas comenta-se que o Bolsonaro pimpão, ao não participar de debates, não está nem aí para a audiência da Rede Globo. O poder de persuasão desta teria entrado em colapso e isso envolve muita grana.

Cutucando o braço de Merval Pereira, Miriam Leitão chama a turma para uma conversa franca sob as ordens dos filhos do doutor Roberto Marinho. Nesta conversa Lenin é citado: o que fazer?  Haverá algo de novo? Convém não deslembrar que o último político a conflitar com a TV Globo foi Leonel Brizola, nacionalista e antiimperialista, mas prestem atenção no detalhe: o governador do Rio de Janeiro carecia de televisão e não tinha nenhum canal a seu dispor, diferente do que ocorre com o Capitão da Igreja Universal do Reino de Deus, que conta com o apoio do megafigurão da Record. O partido político de Leonel Brizola era fraco e pequeno, não tinha Igreja que funcionasse como curral eleitoral.

Nos arraiais semióticos da Universidade Federal de Santa Catarina comenta-se a novidade acerca do triunfo gospel dos crentes. O hedonismo telenovelístico da Globo está com os dias contados. A campanha Bolsonaro-Bannon tem por escopo promover a mensagem cyberzapy em detrimento do veículo televisão. Nos bastidores Jair Bolsonaro ridiculariza os herdeiros do doutor Roberto Marinho e os debates eleitorais.

Depois de meio século de maré mansa os proprietários da TV Globo são desafiados por um pequeno burguês aloprado. A Rede Globo não teria mais a capacidade em fazer a cabeça dos telespectadores. Os novos ricos proprietários de Igrejas e dos meios de comunicação entram na política para disputar o poder midiático. Os evangélicos estão de olho no judiciário. Este é volúvel e invariavelmente pende para lado do dinheiro.

Os filhos do doutor Roberto Marinho, incumbidos de preservar o patrimônio familiar que lhe foi transmitido, estão cientes de que neste embate Haddad versus Capitão não se trata apenas de uma batalha partidária, porquanto os crentes da TV Record, sobretudo no Rio de Janeiro, estão levando vantagens em relação aos católicos que reverenciam a Rede Globo e prestam lealdade ao Papa no Vaticano.

O Papa Francisco, com sua “teologia do povo”, condena a fratura bolsonara entre ciência e fé. É que o Bishop evangélico aboliu de vez a caridade. Que se danem os pobres.

Eis o quadro político midiático: enquanto a mensagem da Globo é volátil e imaterial, não sendo ampliada em determinado local físico, a Record se vale da mensagem eletrônica ancorada  em Templo e  Igreja com os devotos militantes. É por isso que a institucionalidade crente é muito mais eficaz que a persuasão da Globo, e essa persuasão não se faz com sutilezas teológicas entre protestantes e católicos.

Atente-se que a Igreja Evangélica do Reino de Deus nunca deixou de extrair dinheiro do povo, ou seja, a acumulação primitiva do capital foi feita pelo dízimo. Os fiéis e devotos anseiam por um messias salvacionista em meio a um Maracanã cheio de dinheiro.

O sistema evangélico não lida com o trabalho produtivo e a economia real, e sim com o aparato financeiro. É o comércio do dinheiro que dá dinheiro, ou seja, a trapaça do capital comercial. Capital-dinheiro.

Edir Macedo em sua vida já foi semi-lumpem-desclassado no interior do Rio de Janeiro. Começou trabalhando em loteria e se fez pela fala, pelo gogó, embora não fale e nem escreva bem.

Se porventura for eleito Jair Bolsonaro, tirando proveito de uma TV Globo benevolente e autofágica, Edir Macedo será um colega proustiano de Merval Pereira na Academia Brasileira de Letras.

A burguesia evangélica é pragmática e de inspiração anglo-saxônica. Diferente dos tucanos que falam para uma plateia suíça, os pastores semianalfabetos não se valem de uma linguagem tecnicista com léxico sociológico.

A vitória do ultra-populista de extrema direita pode ser a derrota histórica da Globo como TV hegemônica. E quanto a isso, a birra neurótica de Gerson Camarotti com o petismo bicho-papão não tem a menor importância. Com Jair Bolsonaro no Palácio a patota globonews perderá o emprego.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Jair, Edir e Bannon maracutaiam a festa dos pobres e oprimidos

Cena de Terra em Transe - Glauber Rocha

Da telenovela à Lava-Jato

Minha hipótese é que Bolsonaro inaugura uma nova etapa dos signos em rotação cyberzapycapytalysta. Seu cabo eleitoral não é a telenovela Fernando Collor, a cocaína dos pobres manufaturada pelos ricos.

Bolsonaro não saiu dos capítulos da telenovela, pelo menos das telenovelas made in Globo, que são hedonistas e afeiçoadas ao consumo conspícuo; ao contrário das telenovelas evangélicas que tematizam a Bíblia com recorte kitsch apelando para a antiguidade, não ambientadas no Rio de Janeiro com camelô e gurizada avião passando droga.

Sem querer chocar os pruridos da esquerda sentimental, eu diria que Bolsonaro é menos uma necessidade econômica da burguesia do que a expressão da decadência psíquica do pobre e do shopping classe média.

Que desejo a massa tem nele? Desejo de quê? Qual é o sentimento que se interpõe entre o Capitão e o seu eleitorado?

Pequeno burguês suburbano que se alfabetizou como paraquedista no Exército. Ele é o falso contra tudo, o candidato que quer ver o circo pegar fogo, se diz anti-sistema, mas mama na Câmara Federal há mais de 20 anos.

A sua programática é exterminar a massa excedentária, convencido da impossibilidade de incorporar essa força de trabalho no mercado. Inteiramente desprovido da ilusão da legalidade.

Apontar-lhe os erros e os vacilos linguísticos para detectar-lhe o vazio repleto de anacolutos de sua fala: quanto mais emite absurdos mais parece seduzir o eleitor. Chamem o Steve Bannon. Dinheiro não é o problema para nós. Pagamos o que ele pedir. O ex-Trump está desempregado. 

Não deve soar esdrúxulo dizer que Jair é hermano do Dória paulista, almofadinha da classe dominante que está fazendo campanha em São Paulo para o Capitão. Dória chifrou o seu padrinho Geraldo Alckmin. É o caso de perguntar se em todo tucano grã-fino e filho de papai não medra um Capitão soltando a franga a fim de tacar fogo na massa sobrante. Há um quadro aí de coerência na loucura. Por exemplo, o titio Edir Macedo lançou como palavra de ordem o seu filme contra tudo e contra todos, inspirando-se no Trump roliudiano.

O âmago da mensagem de Jair Bolsonaro é a moralidade e não a economia. Se ele vai enxugar ou não o Estado, se dará ou não atenção ao Pré-Sal, à política de grãos e à biomassa energética caso chegue à Presidência da República, pouco importa: o que realmente importa em sua campanha é o moralismo.

Seu discurso moralista está ancorado na questão da homossexualidade, colocando-se contra essa “liberalidade” de costumes e à permissividade homoafetiva. Nisso ataca os governos anteriores, principalmente os do PT quanto aos escândalos sexuais “promovidos pela escola” com o “kit gay” da infância. Nesse “kit”, segundo ele, o PT e o MEC estariam conjuntamente arquitetando um ataque à família, colocando uma norma homossexual nos materiais didáticos perversos.

Há a questão da falsa coragem. O cara rompe com sistema político, caubói valente, rebelde, anti-sistema, anti-establishment, talqualmente Fernando Collor em 1989, só que um Collor mais tosco e agressivo. Isso não é nenhuma novidade, pois Hitler e Mussolini se apresentaram como líderes anti-sistema. Hitler tomando cerveja nas tabernas de Berlim e Mussolini entusiasmado com os futuristas italianos.

Ao contrário de Collor que estudou em bons colégios na Europa e Estados Unidos, que se alimentou bem na infância, eugênico, televisível, filho de Senador da alta classe oligárquica do nordeste, Jair Bolsonaro é um tremendo provinciano, língua presa, pequeno burguês suburbano proveniente do interior de São Paulo. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro e, se não tivesse entrado para o Exército, não teria sido alfabetizado.

Sua deputança do ponto de vista cultural não o aprimorou em nada, continua sendo um personagem medíocre. A coragem de araque, isso de tocar fogo no circo persuade os incautos por causa do saco cheio que rola na sociedade brasileira. Essa insatisfação é confundida com as baixarias proferidas por Bolsonaro. É claro que os ricos sabem muito bem que ele não vai quebrar com nada, que isso é uma performance,  um show, que ele é um bom moço, obediente, não vai contrariar nenhum interesse da classe dominante.

Os pobres com certeza vão ficar mais pobres.


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Eleição psicótica: o bolsonarismo é a farsa no céu de Crivela e Edir Macedo



Signo de mutação psicocultural no Rio de Janeiro foi a vitória de Crivela. O que rola é peleja ou conchavo entre Globo e Record? Disputa pela audiência. Burguesias comerciais, rentistas, proprietárias dos meios de comunicação, enfim, burguesias improdutivas. Prematuro é anunciar o réquiem à TV Globo, embora esta não possua adeptos e fiéis, apenas espectadores que são voláteis, e não beatos.

O bishop Crivela não reza para a rede Globo. Esta tem sua sede no Rio de Janeiro, Record em São Paulo. Não se trata do entrevero que houve entre Globo e Leonel Brizola. Reinava em Brasília José Sarney, muy amigo do doutor Roberto Marinho.

 O PSOL carioca não é um partido com perfil anti-TV. Para essa patota pós-moderna a mídia é politicamente neutra e, a depender das circunstâncias, a TV dominante pode empurrar as causas progressistas.

A tácita concordância com o poder midiático converte a atitude do PSOL quanto ao gênero sexual em uma atitude abstrata ao negligenciar a luta de classes. Afinal, as relações de gênero estão imbricadas no processo de acumulação de capital e de super exploração da força de trabalho.

A mulher integra a classe trabalhadora, muitas vezes trabalhadora não paga. A mulher faz parte da economia informal e do exército industrial de reserva. O feminismo marxista tem de atentar para a manipulação pornô e cosmética, e para o motivo pelo qual a mulher pobre ou pequena burguesa é seduzida pelas mensagens evangélicas, que vota em Jair Bolsonaro. Menos deplorável não é o sexismo dos programas televisivos embalados com música popular pop.

Já foi dito que o verdadeiro desejo dos candidatos do PSOL é cantar e saracotear no Canecão, e não tomar o poder. Convém não deslembrar que o PT, do qual descende o PSOL, teve a Rede Globo como companheira de viagem contra Leonel Brizola. O PSOL poderá palmilhar o mesmo caminho mazoca e suicida se ficar compadre da Rede Globo contra os evangélicos.

Dizia Frederico Engels que na família o homem era o burguês; a mulher, proleta. A criança, o pai do homem, não comove a programática do PSOL; de resto, também não concerne aos pastores porque a criança não tem grana para cacifar o dízimo.

A igreja não é menos patriarcal que a TV capitalista. Descontado o charlatanismo de Bolsonaro, que se vale astuciosamente do gay para fins eleitorais, o ódio reacionário ao homossexual é um fenômeno interclassista.

O corpo homossexual não é uma entidade acima da contradição entre capital e trabalho.
Com passeata gay e TV Big Brother o amor homossexual não é mais o amor escandaloso contra a lei. A sexofobia evangélica é de araque, pois nada impede que no poder seja ativado um Cristo traveco.
A católica rede Globo não é sexófoba, mas nem por isso deixa de ser de direita. A burguesia é misógina, a mulher é considerada cidadã inferior.

No supermercado o grã-fino tucano passa o cartão para a moça no caixa e não está nem aí se ela está fazendo o trabalho de dois trabalhadores. A solução dos problemas sociais está na reza que faz chover dinheiro, alardeiam os pastores ruidosos com boca de motoca.

Em 1974 Pasolini viu a decadência da caridade. A melhor coisa dos católicos não é a fé nem a esperança, todavia a caridade virou pragmática e cínica. A Igreja não foi fundada por São Pedro bonachão, e sim pelo malandro São Paulo.

Edir Macedo, proprietário e teólogo da mercadoria das almas, colocou o seu sobrinho Crivela na prefeitura do Rio de Janeiro, plenamente convencido que possui a sabedoria de Salomão e a arma sionista.

No templo de Salomão, o mini Vaticano em São Paulo, desenha-se o projeto do príncipe capitão em Brasília. Surgidos depois de 1964, os discípulos de Edir Macedo não se preocupam em combater o socialismo e o marxismo, mas em cultuar e propagar a imagem do inferno. O céu é plutocrata.

Revejam o nexo entre Cristo e moeda, o intercâmbio Deus-Jesus-Santo-Sacerdote-Televisão. A sacola evangélica forrada de dinheiro é a mesma da equivalência liberal empreendedora: um belo dia os operários serão capitalistas. Todos temos o direito de nos hospedar no Hilton Hotel. A cabeça beata deseja a punição bolsonara.

Há que punir os pobres, que não é senão o reverso de “cuidar das pessoas”, o mote filantrópico do pastor Crivela. As igrejas (todas as igrejas) não distinguem quem vive de lucro e quem vive de salário. O salário é limitado, não o lucro. Pastor piedoso é oximoro porque o pobre vive para gerar o rico.

Os princípios sociais do cristianismo justificaram a escravidão antiga, glorificaram a servidão medieval, assim como defendem a opressão do proletariado. Os ágapes ensurdecedores dos evangélicos são capitalistas. O lema do rentismo é lucrar sem produzir.

Há pastores por ai vendendo lotes no céu a prestação. É inconcebível religião anticapitalista. Inimaginável um evangélico transido de fé que seja de esquerda e humanista. Se pudesse o teólogo Lutero teria capado Epicuro, o filósofo grego do conceito para quem o mundo era seu amigo.



terça-feira, 2 de outubro de 2018

O pesadelo Bolsonaro e o ódio ao seio da Mãe Gentil



O professor Nildo Ouriques ousou ao escrever um artigo intitulado Reflexão sobre a Ameaça Fascista: O Segredo de Bolsonaro. Nele bagunçou o senso comum acadêmico que, sem entender o conceito de fascismo, acaba usando-o a torto e a direito. Ainda que não tivesse escarafunchado em que consiste o enigma irracionalista desse personagem tosco, medíocre, desprovido de carisma e charme, que atingiu espantosa notoriedade nos últimos seis meses. Parece um produto fugaz da mídia, uma canção do Teló de efeito efêmero, todavia é uma opção de poder que envolve o povo e o país.

O professor adverte: não exagerem a ameaça do fascismo na sociedade brasileira. Talvez o tema de maior complexidade social e política no século XX tenha sido o fascismo, junto com o stalinismo que, embora não sejam simétricos, mantêm entre si determinadas correspondências, conforme mostrou em suas análises pioneiras o bolchevique Leon Trotsky.

Nildo Ouriques brinca dizendo que não é toda segunda-feira que temos fascismo. Cuidado com as palavras. Qualificar de fascista qualquer coisa é perigoso e não esclarece a realidade. Grossura, arbitrariedade, atentado à liberdade, censura, violência - isso por si mesmo não caracteriza o fenômeno do fascismo.

A boçalidade sub-cultural da sociedade de massa no capitalismo videofinanceiro abriga com certeza determinados traços fascistóides. Todavia, do ponto de vista político, para existir fascismo é preciso que haja uma ofensiva da classe operária organizada tendo por horizonte a revolução socialista. Trotsky dizia que o fascismo tinha por objetivo destruir as organizações operárias. A vitória de Hitler foi preparada pela política stalinista do Kremlin, ainda que não se deva confundir fascismo com stalinismo.

O contrário do fascismo não é o socialismo, pois o primeiro é o oposto à democracia liberal burguesa, ou seja, o fascismo é a supressão das liberdades burguesas. O fascismo é uma arma que a burguesia pode lançar mão para erradicar os valores da democracia liberal. Isso é o fascismo clássico que medrou na Alemanha e na Itália durante a década de 30. Os países fascistas, Alemanha e Itália, como reparou Trotsky, eram sequiosos de colônias no Terceiro Mundo. Daí o seu expansionismo, ao contrário do imperialismo democrático da Inglaterra e França, que não foram expansionistas porque tinham colônias.

A reflexão de Trotsky foi retomada na década de 40 por Ernest Mandel na Bélgica e Jorge Abelardo Ramos na Argentina e, recentemente, por Samir Amin e John Bellamy Foster. Não se esqueçam do livro Fascismo ou Socialismo de Theotônio dos Santos na década de 70, quando o continente latino-americano estava sob uma ditadura milico-civil-multinacional.

A análise clássica de Trotsky foi feita em Prinkipo, Turquia, quando de seu exílio da União Soviética, distante do palco dos acontecimentos fascistas na Europa, como assinalou Ernest Mandel para realçar o seguinte aspecto: para existir fascismo é preciso que haja uma pequena burguesia enlouquecida. É célebre a frase de Trotsky, mais ou menos assim, nem todo pequeno burguês se transforma em Hitler, mas há um Hitler em todo pequeno burguês enlouquecido. O temor do pequeno burguês em época de crise econômica se traduz no pânico de se ver rebaixado à condição operária ou sub-proletária. Não vamos abusar da analogia, mas já se observou que a lulofobia decorre do fato da classe média não ter sido alavancada pelos governos petistas durante 2005 e 2012.

Há que realçar que o fascismo serve aos interesses da burguesia financeira e não aos da pequena burguesia. Não resolve grande coisa apelar para a palavra “autoritarismo”, que foi usada de maneira astuciosa pelos sociólogos tucanos para ocultarem os interesses econômicos e de classe. O tucanismo supostamente democrático entrou no enredo de acionar “o golpe legal” contra Dilma Rousseff a partir da contestação arbitrária do resultado eleitoral empreendida pelo senhor Aécio Neves, o ponto inicial da chanchada sinistra de Jair Bolsonaro.

A ponte Michel Temer foi construída para privatizar a Petrobras e a geral, preparando o retorno dos tucanos ao poder, seja um Alckmin ou um Dória. A Lava-Jato de Harvard teria de colocar Lula no xilindró para ser esquecido e morto politicamente com o auxílio da Rede Globo e TV Bandeirante. A lente de aumento incidindo na corrupção do governo petista tinha por objetivo impulsionar as manifestações da classe média nas ruas.

O problema é que nessa orquestração, que inclui a demonização da Venezuela e do bolivarianismo de Chávez e Maduro, surgiu o personagem Bolsonaro que não estava nos cálculos e previsões do tucanato. Isso não quer dizer que haja incompatibilidade substancial entre este e aquele. Na verdade há em cada tucano um Bolsonaro latente, mas este personagem não estava na prateleira do PSDB. Ele surgiu de maneira súbita e inesperada, quase como um raio em um céu azul, e está sendo agora um candidato da classe dominante, referendado pela burguesia bandeirante, o latifúndio, os setores financeiros internacionais e os proprietários dos meios de comunicação de massa, sem deixar de mencionar o patriciado jurídico e os altos escalões da igreja. O economista de Jair Bolsonaro é um cidadão badameco chamado Paulo Guedes, um Chicago boy que fez a cabeça genocida no Chile contra Salvador Allende, uma reduplicação intelectualmente piorada do entreguista Roberto Campos.

Recordo-me do cineasta Pier Paolo Pasolini que desde 1942 refletiu sobre o fascismo na Itália de Mussolini, a mistura de maldade com estupidez para salvar o capitalismo. Distinguiu o fascismo psicológico do fascismo histórico. Opressão dos ricos. O fascismo encarado como uma reserva mental da burguesia italiana. Ele sempre se valeu da palavra cléricofascista, a aliança do Estado com a Igreja.
A raiva analítica, como Pasolini dizia, semelhante à atitude incisiva e peremptória de Nildo Ouriques avessa ao bom mocismo dos candidatos de esquerda, deve ser usada para diagnosticar e se opor à barbárie na sociedade brasileira. Ainda que Bolsonaro não venha a ser Presidente da República, o fato de ter ele alcançado tamanha nomeada já é sinal de uma patologia social e cultural coletiva.

Haja capitalismo invariavelmente haverá o germe do fascismo. A interação contraditória entre democracia liberal e fascismo não deve supor que este será suprimido definitivamente pelos democratas liberais. Somente o socialismo pode eliminar de vez o perigo do fascismo.

Há cor local diferente no fascismo conforme sua latitude. Na Itália deu força para o legislativo em detrimento do judiciário, mas em outros contextos pode acontecer o contrário, por exemplo: por que entre nós não poderá acontecer uma hipertrofia do judiciário?

Como já foi mencionado, o impiti, o Lava-Jato, a panelada na rua, a infernalização da Venezuela - tudo isso sem dúvida gerou a cruzada boçal de Bolsonaro. A prisão do Lula tinha por escopo matar o PT, porém isso não aconteceu. O afável tratamento do judiciário dado aos demais políticos processados ensejou a martirização do líder metalúrgico que indicou o seu candidato para substituí-lo. Parece ter dado certo a fusão de Lula com Haddad, de modo que a ciência política da Rede Globo foi por água abaixo. Isso se percebe no desespero de seus jornalistas jabaculizados entrevistando com pedras na mão Fernando Haddad. O close televisivo no triplex Guarujá, por mais que tivesse sido repetido milhares de vezes, não surtiu efeito.

Há que realçar, não obstante as qualidades intelectuais de Fernando Haddad, que não há abismo entre ele e a burguesia culta do tucanato. Infortúnio histórico seria o PT chegar de novo ao poder e passar a mão na cabeça dos inimigos do povo brasileiro, como fizeram Lula e Dilma. O PT fofinho. O PT comovido com a Avenida Paulista e a favela do Capão. O PT que acredita ter superado a contradição entre capitalista e trabalhador assalariado. A tarefa histórica a que foi incumbido Fernando Haddad é de cortar o câncer Bolsonaro.

Trotsky comparou a liderança fascista ao gangster Al Capone. Tal qual Bolsonaro, Mussolini e Hitler ganharam fama sem terem feito nada de extraordinário. Hitler exibia traços de monomania e de messianismo, “ideologia epiléptica”, enquanto Mussolini era uma fanfarronada cínica e egoísta. Como explicar o êxito dessas duas figuras? Esse é um assunto sempre recorrente na teoria política do século XX.

Eu não estou convencido que a epilepsia gestual do Hitler possa ser aplicada à performance falsária de Bolsonaro porque este, pusilânime e hedonista, carece da energia necessária de líder fascista. Dificilmente ele terá a audácia da atitude ascético-sacrificial da personalidade básica do fascismo. 
Pasolini em seu livro Empirismo Herético sublinhou que a sociedade interclassista de massa permite juntar o manager com o proleta. Não se admire que Jair Bolsonaro seja curtido como herói em Wall Street e na Ilha da Maré. Nem chorar nem rir, aconselhava Karl Marx citando Baruch Espinoza, mas compreender. A ofensiva reacionária é mundial. Já foi dito que o ocaso do capitalismo vai ser mais doloroso do que foi o seu início.

O pai do Trump era da Ku Klux Klan. O guri foi mimado vendo o linchamento de negros. O seu guru é o Henry Kissinger que bombardeou o Camboja e sabotou o Pró-Álcool de J. W. Bautista Vidal. O João Dória é o Trumpinho paulista querendo imitar o Trampão. Foi o prefeito “CEO”. O bilionarismo é um tesão cultuado em São Paulo. O povo precisa ser governado por gente nababo. A plutocracia exibicionista. Isso começou com a coluna Joyce Pascowitch no jornal A Folha de São Paulo. Exiba o seu carrão e o seu jatinho. Não esconda o seu consumo conspícuo. Essa burguesia exibicionista não terá nenhum prurido de escancarar o seu papel na derrubada de João Goulart. Viva o golpe de 64. É isso o que se ouve nos salões da Fiesp. Essa é a palavra de ordem da burguesia bandeirante que se espraiou pela Rede Globo e pelos cursos de pós-graduação nas universidades.

Não seria descabido afirmar que foi dessa superestrutura política que surgiu o caubói Bolsonaro, mas não podemos nos ater a essa esfera da realidade para explicá-lo. Temos que investigar à Wilhelm Reich e com a psicologia de massa da personalidade autoritária estudada por Theodor Adorno. Bolsonaro deve ser explicado do ponto de vista psicológico com o seu caráter sádico-anal. A misoginia coloca em primeiro plano a obsessão neurótica com o encontro exclusivo do pênis / ânus e o sequestro do órgão sexual feminino.

Atreveria dizer que o Bolsonaro expressa um sentimento terrível que está se configurando na sociedade brasileira: o repúdio do homem brasileiro ao seio da mãe. E mais: a raiva contra a mãe que reverbera na raiva contra a mulher em geral. Isso é um escândalo porque até agora a mãe segurou a sobrevivência da família do brasileiro pobre, e não apenas com o leite de seu seio. É preciso fazer uma análise da caracterologia neurótica de Bolsonaro como um epifenômeno sócio-cultural da situação existencial do homem brasileiro. A recusa do seio da mãe não está desconectada do hábito da Coca-Cola, da macdonização do paladar e do adubo cancerígeno da Monsanto.

Bolsonaro não deixa de ser um fenômeno culinário, um acontecimento gástrico. Não estou aqui a fim de psicologizar esse desastre civilizacional. O problema não está em Bolsonaro, e sim nas coisas que geraram esse tipo de personagem. A sociedade brasileira está doente, cada vez mais miserável e assolada por um rentismo que corrói o corpo e a alma. Bolsonaro começa por um bonapartismo de baixo nível e já tem apoio da alta burguesia paulista e dos estamentos multinacionais. Não é a toa que os jornalistas venais estão botando Bolsonaro no colo, chamando-o de queridinho e de homem providencial.

O rentismo está consubstanciado na finança de Edir Macedo que o apóia por ser antiecológico. Alérgico à natureza, o pastor gosta é de dólar. Edir Macedo é o nosso Murdoch, que atua afinado com Medina, o empresário que trouxe a Aids para o Brasil com o Rock in Rio. Isso revela que Bolsonaro tem o seu lado pop. O empresário de marketing e publicidade, Medina, cuida da campanha de Bolsonaro, e Medina é comensal da Rede Globo, então conclui-se que não há antítese entre Edir Macedo, o proprietário da Record, e a Marinho family; o que existe é uma espécie de ultraimperialismo midiático, ou seja, a fusão de rentistas na classe dominante.

Edir Macedo gosta de sublinhar o caráter sanguinário e bélico da Bíblia. Jair & Edir seria a chapa evangelical gun ideal, e não um general de vice que pinta o cabelo. A filantropia de Rockfeller queria a matança de todos os pobres. Os pobres são responsáveis pela pobreza. Bolsonaro é aliança gospel videofinanceira armada com os brinquedinhos de Israel. Quanto mais miséria, mais igrejas. A expansão evangélica corresponde ao caráter rentista e especulativo do capitalismo monopolista. Todo fundador de Igreja, seja qual for, revive o São Paulo gestor, burocrata e empreendedor.

E no embate Bolsonaro versus Haddad a Igreja católica vai tirar férias?

Em 1968 Gustavo Gutiérrez escreveu a Teologia da Libertação que teve enorme repercussão nos meios católicos da América Latina. Em Roma o Vaticano não gostou da “opção pelos pobres” denunciando a desigualdade social.

Há quem diga que o papa Francisco esteja retomando a teologia da libertação para enfrentar a ascensão evangélico-protestante no continente latino-americano, cuja expressão máxima é o Bishop Macedo, o rival, o adversário, o concorrente da igreja católica.

O Vaticano sabe que Edir Macedo não é Lutero, mas preocupa-se com a sua audiência, que no fundo é política. Edir não se apresenta como protetor dos despossuídos. Não é o Messias que vai nos livrar de todos os males. No país da conciliação de contrários poderá haver uma “entende cordiale” de católicos e evangélicos, Edir, Globo e Record.

A disputa Bolsonaro Haddad traz o fantasma de Edir Macedo como o Czar que poderia unir todas as facções evangélicas. O Templo de Salomão é uma escada kitsch para alcançar o Palácio da Alvorada com Jair Bolsonaro. A diferença é que Edir Macedo é pós-moderno, não se preocupa com os comunistas nem com o materialismo histórico. Isso não atrai o povo de Deus. O papa Francisco sabe que o catolicismo poderá não sobreviver na América Latina se a Igreja abandonar o pobre, deixando-o votar em Jair Bolsonaro.