quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Glauber Rocha e eu


Um pouco da amizade que tive com Glauber Rocha, um dos mais importantes cineastas do mundo. Tive com ele encontros memoráveis. Ele era um ser extraordinário, conhecido e pensado ao mesmo tempo. Quem me apresentou foi o jornalista Cláudio Abramo. E ele havia acabado de ler um texto meu. Foi um dia estelar. Comentário de Gilberto Felisberto Vasconcellos no Programa Campo de Peixe, na Rádio Campeche. (19.10.2024).




segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O voto é mercadoria

 


Quem se habilita a filmar a vida de Jesus Cristo na favela Capão Redondo? E quem faz a ciência das eleições? Esses temas bombariam nas redes. O que são as pesquisas de opinião de boca de urna? Pesquisas são mercadorias. O voto é sempre comprado. Raramente um candidato sem dinheiro se elege. Comentário de Gilberto Felisberto Vasconcellos no Programa Campo de Peixe, na Rádio Campeche. (12.10.2024)

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Do delegado tucano dândi aos Empreendedores da periferiamarçau


 

Cena do filme O bandido da luz vermelha – Rogério Sganzerla

A cadeirada exorcista do delega Datena incidiu, graças ao estilo bronco, na falsidade democrática do circense Roda Viva. Este desmoralizou-se em sua farsa protocolar que intenta mostrar que pito tocam os candidatos. Há décadas esse entediante programinha de direita faz um mal danado à representação política. A patroa âncora petulante é uma dondoca tucana virago sob o guante do pós-moderno Leão Serva.

Um pilantra de boné subverteu as regras do jogo não respondendo às perguntas e instrumentalizando a câmera: votem em mim! Votem no meu boné, assim você vai ficar rico, babaca. O babaca é o espectador, diria Lukács em História e Consciência de Classe.

Roda Viva - nome péssimo - é a morte do diálogo, convidados chapas-brancas vendem o peixe e personificam a mercadoria de seus patrões: Folha, Estadão, etc.

A bancocracia ilustrada da cultura pop é quem na verdade dirige o Roda Viva.

O avoengo Frias e o virulento Boris Casoy, por sugestão do sinistro Silvio Frota em Brasília, escantearam o jornalista Claudio Abramo em uma inóspita salinha sem direito a cafezinho e misto-quente na Folha de São Paulo.

Perguntei a meu saudoso amigo: - por que você não vai dirigir a TV Cultura?

- Não dá, é feudo do Abreu Sodré.

Em São Paulo o único programa jornalístico que presta é o do católico Eduardo Moreira, um défroqué do capital financeiro que está prestando inestimável contribuição cívica ao mostrar a trapaça dos “lucros honestos”, segundo a ironia de Karl Marx.

Não sei se em termos de audiência prejudicaria o programa de Eduardo Moreira se o denuncismo retórico fosse substituído por uma crítica materialista do espetáculo midiático; todavia um grande lance seria mexer em seu formato careta de aula de cursinho. Releva no entanto elogiar, pela ausência do muzak acústico, a qualidade linguística que permeia a fala dos repórteres, ou seja, sem o insuportável e alienante “sonzinho de fundo” como valor de troca.

Torcer para que vença Guilherme Boulos é realmente bacana, mas há que se explicar simultaneamente as águas bolsonaras que correm no riverão Tietê. Explicar evidentemente para combatê-las com o proletariado e o lúmpenproleta bandeirantes.

Guilherme Boulos deve recusar qualquer apoio insinuado por Marçaupablo porque este é uma mônada charlatã desprovido da capacidade de transferir votos. Nem tampouco deve aceitar arrimos de tucanos e pastores evangélicos mercenários.

Bon Voyage.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Pauliceia Prostituta e Marçal Pablo

  


Favela Capão Redondo de São Paulo

As ciências sociais têm dificuldade em construir uma teoria que explique a sedução dos evangélicos e dos charlatães da Bíblia. Antes de tudo a pergunta até hoje irrespondível: o que é que o homem brasileiro não acredita? Não basta a ética exposta de Edir Macedo, Malafaia e Marçal. Não basta invetivá-los como exploradores dos pobres e desvalidos. 

A raiva analítica não deve deixar de lado o mecanismo que seduz as massas populares. Lembra-me Wilhelm Reich com o seu livro sobre Hitler, A Psicologia de Massa do Fascismo: a sexualidade que leva à personalidade autoritária a desejar o tirano ou a quem engana o bolso do pobre como o finado Silvio Santos, ou senão os aproveitadores dos dízimos extraídos do subproletariado parvo. 

Engenhosidade esperar uma guerra entre os barões do charlatanismo acusando o rendimento de cada um, como se Marçal fosse uma dissidência de Edir Macedo. 

Guilherme Boulos, o filho obediente de Lula, não tem a malícia agressiva o suficiente para combater a máfia do mal, uma vez que ele está desprovido de uma teoria explicativa sobre a gênese social dos enganadores do povo, portanto não sabe onde está o ponto fraco do inimigo. 

É um vexame conceitual supor que Marçal Pablo seja uma teoria extraordinária do capitalismo empresário para deter o segredo da pauliceia prostituta. 

Há consenso na classe dominante em São Paulo em torno de uma candidatura que não faz uso da caridade cristã. O alvo do seu programa não está em pleno emprego, e sim na existência do dinheiro. O milagre do dinheiro. Uma multiplicação milagrosa do dinheiro. 

A escola primária não deve priorizar as letras, e sim a introjeção infantil do dinheiro, ou seja, cada guri é um empreendedorista, assim como a Xuxa inaugurou o cabaré das crianças na TV Globo. 

O fetiche alucinado da mercadoria. O tesão pelo dinheiro. Essa é a lógica das eleições que atrai o povo pobre. Marçal Pablo é incisivo quanto à personalidade egóica a ser seguida: vote em mim que você fica rico. Não é diferente da mensagem dos pastores que vão sozinhos para o céu, não levam ninguém, nem pai, nem mãe, nem hora de futebol. 

Eu vou 

para o céu 

sozinho

O espetáculo é o Deus em mim transformado em candidato para fazer o corpo do pobre dinheiro.

 Edir Macedo não chegou tão longe. 

Blasfemo! Blasfemo! Blasfemo!

 Marçal Pablo, não importa se ganha ou não para prefeito, é uma expressão da hegemonia da internet na direita.

A palavra “socialismo” tornou-se algo antipopular e anti-humanista, idem a palavra “esquerda”, não apenas por influência das vozes evangélicas. Eis o espetáculo na política: o que aparece é bom e o que é bom não deixa de aparecer.