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Protesto em Floripa/2019 - Foto: Rubens Lopes |
Calderón
de la Barca dizia: “cuidado com as águas mansas”. Estava tudo aparentemente em
ordem e tranquilo, mas de repente desbotou a maquiagem que vinha desde o plano
real: a voz da raiva tomou conta das ruas.
Atenção.
Protesto não é resistência, insurreição, tampouco indício de situação
pré-revolucionária; todavia isso não significa, como quer o quietismo do
pijamão universitário, golpismo contra a Dilma. Também não é como sugerem os
ponderados afrescalhados, estéril manifestação volátil por não orbitar na
esfera da representação oficial da política.
A
verdade é que a burguesia não tolera de que a política seja feita de modo
extra-parlamentar. O bom senso, segundo os âncoras burgueses da TV, é ficar em
casa quietinho e, na hora da voto, votar segundo os candidatos da telenovela. É
isso a democracia safadamente identificada com capitalismo. Ora, o objetivo do
capitalista não é a liberdade, e sim o lucro. Com ou sem democracia o
importante é o lucro.
Não
é por acaso que a palavra mais usada pelos parlamentares e jornalistas é
“democracia”, a qual não teria nada a ver com a luta de classes. Não vemos
nenhum professor salsichão na TV falando que o capitalismo é contra a
democracia. É preciso tomar cuidado com a edição do protesto feita pela TV. Não
nos esqueçamos de que o sistema televisivo é totalitário desde as suas origens.
O
protesto tem que ir além da palavra de ordem pequeno burguesa, a qual dá a
entender que o mal do mundo é inerente ao capitalismo, mas não é a essência do
capitalismo. A essência deste é a exploração da força de trabalho.
Quanto
ao vandalismo, é preciso esclarecer que, como dizia Carlos Marx em O Capital, acumulação primitiva e
originária do capital foi feita de maneira vândala, explorando o trabalho
infantil e o trabalho das mulheres. Então, eis a verdadeira palavra de ordem:
capitalismo é vandalismo, vândalo é o latifúndio agrobusiness, vândalo é o
banco, vândalo é o plano de saúde, vândalas são as tarifas telefônicas, vândalo
é o show pop, vândala é a indústria farmacêutica, vândala é a imprensa, a qual
é a mais empresa do que informação. Os âncoras jornalistas correm o risco de
não poderem sair de casa. Cagaço. Estes profissionais da mais-valia ideológica
são terroristas.
Os
protestos começam a amedrontar a mídia quando os alvos dos protestos assumem
dimensão anticapitalista. Estes alvos estão localizados nos consórcios de
bancos, empresas multinacionais, televisão e grandes jornais. Sem esquecer o
latifúndio Monsanto que produz comida cancerígena e remédio que não cura.
Não
é preciso dizer que o protesto vai pegar fundo se a classe operária entrar na
parada, aí é que o bicho pega. Lenin dizia que o ataque ao partido político é
uma estratégia da burguesia. O ataque ao partido político é incentivado pela
telenovela. Hoje está na moda substituir o conceito de classe social por massa
popular. Daí a mistificação do pluralismo que serve para esvaziar o conceito de
classe social e de exploração do trabalho.
É
claro que o sarampão antipartido se justifica por causa da escolástica do
sistema representativo. Mas isso não exclui a necessidade de se ter um partido
de massas de esquerda. Enquanto não aparece uma direção revolucionária, como
queria Leon Trotsky, é importante desenvolver uma gramática de desobediência
civil expressa na tecnologia digital com epigramas e aforismos radicais. Mas,
cuidado, dona Odete, a história não é feita pela internet.
Revista Caros Amigos
Ano XVII, número 197,
agosto de 2013
Página 08: “Gilberto
Felisberto Vasconcellos: Capitalismo contra Democracia”
Compilação: Matheus Rosa
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