Beleza o estilo de Oswald de Andrade reencontrado em seu último livro Diário Confessional.
Como trevas do dinheiro: "quando espera a glória vem o oficial de justiça". A verdade é que desproletarizaram Oswald de Andrade. Queria fazer uma pequena enciclopédia proletária.
Seu pai tropeiro, condutor de tropas da Serra do Picu, Itamonte, Minas Gerais, para o Rio.
Herdou a diabetes de sua mãe. "Minha mãe gorda, e tutelar, mandava dar gorjetas ao cozinheiro ou ao Maitre D'Hotel para nos servirmos bom peixe".
Apenas a natureza: "as condições especiais dos trópicos(clima nudista de natureza farta). Nossa indígena como protótipo detentor dessa weltamshauumg é a minha tese apoiada em missionários e viajantes".
Abominava o marxismo escolástico e de caráter jesuítico. Criou a trialética: o ocioso, o senhor e o escravo. Eis o enigma na crítica literária: "O suicídio poético de Rimbaud, a quebra do instrumento". Lembra o desabafo de Glauber Rocha: "as mulheres queriam que eu fosse Rimbaud, e os homens queriam que eu fosse Godard".
Infância; "as crianças não enlouquecem". Como primeiras enunciações dos meninos são silábicas. Aprender a falar é reproduzir o que ouve, segundo Mattoso Câmara em Princípios da Linguística Geral. Oswald de Andrade: "o importante é o que se ouve, e não o que houve".
Marxismo. "Observação sensacional de Engels. O homem deixou de devorar o adversário para fazer-lo prisioneiro e escravo".
Velhice pobre: "sou um rato vivo, pulando atrás de queijo que tem o direito de roubar para mim e para os meus".
O nome do maridão: "o matriarcado desliga do amor a ideia da gestação". Menciona a sociedade da algema e da arquitetura cowboy de Bauru.
O problema da literatura brasileira é que ela não anda de ônibus. "Pagamos ainda o dízimo ao estrangeiro".
Não queria uma velhice velhaca.
Antropofagia, palavra grega que significa comer carne humana. Isso não quer dizer que a antropofagia não tem sido amiga do homem. Eu acho infeliz a escolha desta palavra para designar seu reflexão filosófica. É que seu pensamento vai além disso. A devoração consiste em uma estratégia para evitar o utópico e o escatológico.
Ficou fascinado com a palavra "antropofagia" que encontrou em Shakespeare, e não a largou até a final da vida. Ficou na contemporaneidade como o único filósofo antropofágico. O apego a esse conceito de antropofagia não restringiu o alcance de seu pensamento e nem prejudicou seu estilo literário.
Pau-Brasil, por outro lado, não é uma palavra grega, projeta um vegetal de canso pano. Pau vermelho. Pau ensolarado. O nome Pau-Brasil é muito mais representativo do trópico e apropriado como expressão da que antropofagia.
Na poesia de Oswald de Andrade a vegetação prepondera sob o animal e o mineral. Não esqueçam que a mão-de-obra da extração da madeira começou com o índio e depois com o negro escravizado pelos donatários. Empresários da escravidão tentando fortuna com o pau-brasil. A primeira perda internacional da economia, diria Leonel Brizola. A madeira cobiçada pelos contrabandistas ingleses, franceses, portugueses e holandeses. A devastação ecológica com fogo na floresta. O binômio trágico nos acompanha até hoje: fertilidade dos trópicos e capitalismo antiecológico.
Grande Gilberto, irmão das letras de Oswald, da música do Villa, do cinema de Sganzerla, do teatro do Zé. da pintura de Di, amigo querido por quem tenho muita admiração e carinho.
ResponderExcluirOi, professor Gilberto. Publiquei um inédito de Oswald em livro e gostaria de enviar a você. Se possível, deixe seu endereço aqui ou envie para lucemiro@yahoo.com.br
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