quinta-feira, 20 de abril de 2023

Salve o economista André Lara Resende apóstata do rentismo ordinário

Imagem: filme Boca de Ouro - Nelson Pereira dos Santos

 É inegável a reverência que o homem brasileiro colonizado tem pelo liberalismo inglês a partir de 1702 com o tratado de Methuen, desdobrando-se na guerra do Paraguai de 1860. 

Solano Lopez até hoje é odiado pela elite letrada e pelas Forças Armadas porque ousou desafiar a dominação da Inglaterra. Que seja lembrado o historiador das Forças Armadas, Gustavo Barroso, o qual será um dos chefes do integralismo e complacente com o imperialismo inglês. 

A revolução de 30 é a clivagem entre o domínio inglês e o domínio norte americano. A crítica de Luiz Carlos Prestes a Getúlio Vargas é que este hesitou entre um e outro. 

Fato é que a partir de 1930 o capital estrangeiro no Brasil é norte americano. Portanto, toda a superestrutura será norte americanizada, o prestígio inglês fica confinado aos venerandos economistas admiradores de Adam Smith e Lord Keynes. 

Os esnobes Eugênio Gudin e Roberto Campos, assim como em seus diluidores tucanos, a exemplo de Pedro Malan e Gustavo Franco; todavia se rendem à evidência da hegemonia do dólar em seus cargos e em sua privacy. Eles não podem deixar de dar adeus à Lombard Street com os seus duques e barões. Trata-se de um adeus melancólico e que ressoa na carioca House of Garças, onde se fofoca que Paulo Guedes é um meteco, sendo mal visto por não ter trato com o alfaiate inglês, não obstante o seu laissez-passer livre-cambista que preside o leilão privatizador. 

A City, o bairro grã-fino de Londres, era por aqui repercutido pela verve literária de José Guilherme Merquior apadrinhado no Itamaraty por Roberto Campos, enquanto Paulo Guedes com Bolsonaro teve que se contentar com o panegírico baixa renda de Olavo de Carvalho e Merval Pereira. 

O "colonial service" vai mudando de fisionomia gástrica e linguística na periferia dependente e rentística. Os sucessores agringalhados do Barón de Mauá não mais usam o garfo e a faca dos hijos de da família Rothschild.


quinta-feira, 6 de abril de 2023

Histórias que o vento não leva


 Foto: Retirada do filme Jango – 1984 de Silvio Tendler

Brizola, Lula, Collor, FHC, Bolsonaro e madame Tebet

O bolsonarismo de reserva é página virada na história. Não terá mais condições de se recompor.

Nascido artificialmente de cima para baixo, é difícil que sobreviva for a do poder.

Melancólico epílogo, sem plateia e sem massa, com medo de ser engaiolado.

Não se esqueçam, no entanto, que para vencê-lo foi necessária uma frente ampla com várias cores e retalhos.

O PT veio ao mundo como frente, dizia Leonel Brizola acerca de seu caráter heteróclito, católicos, sindicalistas, professores, universitários, liberais e marxólogos.

Na vida de Lula há um tempo menor transcorrido na fábrica do que no Palácio, três vezes presidente da República, o que é uma singularidade na história do Brasil.

Deixará o poder com 80 anos de idade e ninguém é capaz de antever com qual sentimento subjetivo e com qual realidade objetiva.

A história é imprevisível. Um Lula aplaudido pelo povo com coragem política ou um líder desfibrado, fraco e pusilânime, ante as exigências da luta de classes.

Vejo-o sob um prisma dúplice em seu relacionamento com o trabalhismo de Leonel Brizola depois do retorno deste do exílio, e na oposição ao neoliberalismo obscurantista de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, indo da prisão à jubilosa vitória eleitoral.

Deixei claro em vários livros, Brizula o Samba da Democracia; Collor a Cocaína dos Pobres; A Jangada do Sul, Depois de Leonel Brizola, que Lula errou em 1989 ao recusar a chapa Brizula contra Fernando Collor. Ao derruir Leonel Brizola ajudou a eleger Fernando Collor. Um infortúnio para o país. Mais tarde Leonel Brizola foi o seu vice em uma chapa derrotada por FHC.

Leonel Brizola errou em ser seu vice. A cabeça da chapa deveria ser Brizula, não Luzola.

O nome Brizula é lindo, soa bem aos ouvidos, parece samba de Nelson Cavaquinho enquanto Luzola, aqui para nós, soa péssimo. A vitória de FHC antecipou a privatização de Paulo Guedes.

Ao recusar a composição Brizula, Lula pisou na bola. Louve-se por ter ele tirado Jair Bolsonaro do poder. Isso, afinal, o redime por ter ajudado Collor a chegar à presidência? Uma mão lava a outra, se bem que como dizia Engels em carta a seu amigo Karl Marx: a luta de classes é profana, então há que julgar os responsáveis por Jair Bolsonaro ter sido eleito presidente da República.

Frente ampla foi uma jogada de Carlos Lacerda depois de 1964. Jango aderiu à Frente Ampla com Jotaká. Leonel Brizola recusou essa aliança com os seus adversários de ontem, ou seja, os golpistas de 64.

É muito difícil governar com Frente Ampla. A classe dominante não opera no vazio. Descortina-se com o horizonte sombrio PT se porventura capitular sem lutar.

O objetivo do fascismo consiste em destruir as organizações operárias, mas estas já estão desmoronadas, incluindo os sindicatos da burguesia. Por mais amistosa e amável que seja a madame Simone Tebet, o consórcio com o pop agrobusiness não é inocente.

Ex-bolsonara, Simone Tebet, a vedete da imprensa pode ser um cavalo de troia no governo Lula.

O caminho já está palmilhado para as próximas eleições: a senadora será a representante da propriedade rural multinacionalizada com o perfume Globo Nius.


A dialética vaselina


 

Foto: Rubens Lopes

Intriga-me, não por dele ser amigo, que Nildo Ouriques escreva sem rebuço sobre o que pensa da atualidade e nada é dito quanto a sua abordagem marxista, discípulo de Ruy Mauro Marini.

O título do artigo "A União dos Democratas" remete à questão da fragilidade da democracia se o bolsonarismo veio para ficar. A vitória eleitoral de Lula não parece de grande significado político e econômico, por conseguinte é deslumbrada a euforia por ter Jair Bolsonaro perdido as eleições.

A política é entendida em sua materialidade de classe com os interesses econômicos e sociais, e não como fato moral de costumes, liberdade sexual, gênero e etc.

Fato é que Nildo Ouriques acerta na crítica ao liberal-petucano, mas erra em relação ao fáscio-bolsonaroide, mencionado como o "indefinido brado pela liberdade", "Bolsonaro clama pela liberdade contra a democracia". Tudo isso soa esquisito na análise do bolsonarismo, mas há acerto quando Nildo Ouriques diz que o germe do bolsonarismo está no rentismo do plano real. Pasolini achava que "consenso" era uma estratégia fascista.

O plano real é a "economia política do rentismo". Nota 10 para Nildo Ouriques. Segue-se a crítica ao Ministro da Defesa sobre a despolitização das Forças Armadas, como se houvesse a possibilidade de haver Forças Armadas sem política. Isso não existe desde o Duque de Caxias. O lance é saber que tipo de política opera as Forças Armadas. O dilema do soldado brasileiro está entre Monroe e Bolivar, o dilema pende para Monroe porque o país é dependente, subdesenvolvido e compra armamento dos países hegemônicos.

O desafio é harmonizar o pobre e democracia, aquilo que Francisco Weffort sublinhava que era meta do PT, então Lula estará sendo compelido a filantropia compensatória, em contraste com o Bolsonaro desapiedado quanto aos pobres e miseráveis. Então, a diferença se insere no plano moral assistencialista e filantrópico.

O sopão envenenado para os despossuídos, é isso o que estava em pauta no governo Bolsonaro. Cito aqui a expressão de Marx "despotismo militar" em correspondência com Engels. "Despotismo militar" significa a supressão de todas as leis, segundo Marx.

O problema do Bolsonarismo é tentar converter as Forças Armadas em seita, a qual faz de tudo para manter-se unida.

Salienta-se a pergunta magistral de Nildo Ouriques: o que é o pobre para o Banco Mundial? Isso lembra Álvaro Vieira Pinto discorrendo sobre os mecanismos que fazem do pobre um submisso, na linha de Fannon, de Glauber, de Darcy Ribeiro quanto a submissão cultural do pobre.

A discussão sobre as armas já foi posta por Glauber Rocha: as armas nas mãos dos famintos. É essa a insurgência do cinema de Glauber Rocha e de sua estética da fome. A estética da fome coloca a seguinte questão: câncer é um faminto matando outro faminto. Justiça social só com armas para os famintos, é isso a sublevação da miséria nos filmes de Glauber Rocha.

Quem integra a classe dominante no período Lula não é diferente da ditadura, e quem exerce o poder político no governo Lula? Marx dizia que a rapacidade é o princípio vital de toda burguesia. Foi assim que Ruy Mauro Marini reagiu à intriga de FHC e José Serra.

Façamos outro Bolsonaro antes que as Forças Armadas o façam. Essa nova aventura forjada pelos discípulos do general Frota parece ser irrepetível. A genealogia da moral Bolsonaro está na mistura de programa de auditório do tipo Faustão e Jô soares com a novela da Regina Duarte e Daniel Filho a vida imita a telenovela.

Do que se trata é a degeneração mental e biológica de uma sociedade miserável, parasitária, rentista e dependente, degeneração interclassista, porque degenera o pobre, degenera o rico e degenera a classe média. Essa é, digamos, a ontologia social do bolsonarismo, para usar a expressão famosa do filósofo György Lukàcs. Ontologia social do bolsonarismo, não apenas as artimanhas da superestrutura de Sergio Moro, Lava Jato, petucanismo, Agulhas Negras e Judiciário. Por ontologia social. Entende-se tessitura das relações que gerou o bolsonarismo.

O berço melancólico do bolsonarismo é o Rio de Janeiro que matou a letra dos Cieps, com a vitória da telenovela e do roque in ril. Daí o seu obscurantismo, daí o seu ódio intelectual, daí o seu ódio à biblioteca. A family bolsonara é uma invenção de telenovela pós 64 gerenciada por Roberto Campos e Paulo Guedes.Resta saber, depois da contribuição crítica de Nildo Ouriques, se o bolsonarismo com ou sem Bolsonaro, é uma histórica necessidade da burguesia rentista, cafajeste, cínica, compradora e desterritorializada.

A degradação biológica da maternidade é um dos aspectos da ontologia social bolsonara. Secou o peito da mãe junto com as florestas derrubadas e queimadas.

domingo, 2 de abril de 2023

Comissário Flávio Dino


O desafio cívico de se insurgir contra o dízimo evangélico pode converter Flávio Dino em um comissário do povo. Começar por cobrar imposto das igrejas, inclusive sobre a manipulação mental que os bispos exercem sobre o povo. É necessário atacar essas igrejas que tanto mal fazem ao povo trabalhador. Este é o tema do comentário de Gilberto Felisberto Vasconcellos no Programa da Rádio Comunitária Campeche, apresentado por Elaine Tavares. (01.04.2023)