domingo, 30 de janeiro de 2022

Olavo de Carvalho, o Gramsci de Jair Bolsonaro


Foto: reprodução do Youtube

O bolsonarismo requer uma abordagem psicanalítica para retratar a libido sexualis da direita desde o integralismo na década de 30. 

Enlaçados estão o gesto e a fala da nevrosíaca Janaína Pascoal ao entrar na política depois de protagonizar o escândalo da Lava-jato. Teatro. 

Dona Janaína ficou conhecida na crônica jornalística como a mãe do diabo. Relembrem que o Diabo é um personagem masculino por excelência, não pertence ao universo feminino. 

Pela emissão sonora dos personagens da Lava-jato é possível detectar a região do corpo na qual se concentra a fala da anticorrupção: a zona anal. Analidade na acepção defecatória mais que a uretral e a mamária. Daí o caráter escatológico que se observa na fisionomia de todos os integrantes do governo Bolsonaro.  

Eu, o incorruptível; os outros, sujos e tarados. O estágio sádico-anal revela a combinação de fezes e dinheiro.

Qual é o motivo da perseguição póstuma a Antonio Gramsci? Por que este pensador humanista tornou-se o Exu da direita brasileira? 

Educação é luta de classes. Não existe pedagogia desconectada do antagonismo entre capitalistas e trabalhadores, ou seja, quem vive de lucro e quem vive de salário. 

Em 1926 Antonio Gramsci era membro do parlamento, e acusado pelo professor Benito Mussolini, foi preso em 1928 e morreu em 1937 no cárcere.  

Mussolini fez de tudo para impedir que as ideias gramscinianas fossem conhecidas. Em 1949 seus escritos foram publicados com o título Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Causou impacto sua concepção sobre o nacional-popular. 

A divisa inteligente da assimilação de Gramsci na Itália se deu com o poeta Pier Paolo Pasolini – que acusava são Paulo de ter sido sexofóbico e homofóbico; embora o fundador da Igreja fosse homossexual. Enterrado no Cemitério dos Ingleses em Roma, Pasolini o revisitou no poema As Cinzas de Gramsci, uma reflexão marxista feita em poema sonata.  

Ao contrário de Arthur Rimbaud que por delicadeza perdeu a vida, poder-se-ia dizer no caso de Olavo de Carvalho que, por grossura, ele subiu na vida indo morar nos EUA. Depois que o capitão entrou em cena, os seus livros alcançaram alta vendagem na internet. Os filhos do presidente propagavam que tiveram aulas particulares com o “filósofo”, como ele gostava de se autointitular. 

 Ninguém dos bolsonaros tem a menor ideia da crítica de Gramsci à ortodoxia stalinista da política cultural. Os hermanos Bolsonaro falam de Gramsci com bazuca na mão. 

 Na homilia pornô do desbocado Olavo de Carvalho Gramsci era um bandido comunista travestido de cristão. O desejo secreto dele era mandar pôr no pau de arara quem mencionasse Marx, Croce e Gramsci nas universidades.

Antonio Gramsci foi lido na Europa depois da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de encontrar uma via nacional do socialismo que não fosse stalinista, e simultaneamente elaborar a oposição contra o perigo do fascismo.

A reserva mental do fascismo é uma ameaça permanente que ronda a Itália, sobretudo com a fusão de polícia e jurisprudência, reproduzida hoje aqui pelos carrascos de Curitiba, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol. 

Francisco Weffort e o seu discípulo José Álvaro Moisés leram mal Gramsci. Atucanaram-no. Equívoco cometido por Norberto Bobbio é sublinhar a independência da cultura em relação à política. 

 Quase não há declaração do governo Bolsonaro na qual o nome de Gramsci não seja evocado com nojo e repugnância. Por que a mesma raiva não se estende a Lênin, Trotsky, Lukács, Labriola, Paul Baran, Brecht e Pasolini? 

Para Olavo de Carvalho, o hermeneuta do pensamento de Jair Bolsonaro, os intelectuais marxistas não prestam, são burros, imbecis, cretinos, desonestos e corruptos. Por exemplo, Marcuse da Escola de Frankfurt é um autor perverso que predica o incesto, aconselha a mancebia entre pai e filha, aplaude o incesto como ato antissocial que solapa a civilização judaico-cristã. Precursor do kit-gay, atormentado pelo desejo do incesto, transgressor, tarado sexual, que vê com bons olhos o pai bolinando a filha, a mãe namorando o pênis do filho, Marcuse não tinha respeito pela família. Um canibal. Segundo o cardeal Olavo de Carvalho o objetivo dos comunistas era depravar a família. 

Um dos filhos de Bolsonaro (não sabemos se 01 ou 02) perguntou se Marcuse era homossexual. Olavo de Carvalho retrucou que a esquerda brasileira padecia de uma catarreira com fedor insuportável. É essa esquerda hipogástrica que admira Marcuse porque esse comunista safado quer eliminar o tabu do incesto. O filho 03 tinha dúvida se o comunista mais daninho à pátria e à família era Gramsci ou Marcuse. 

Na rede social foi publicado o vexame quanto à prosódia (pronúncia correta das palavras), porquanto a família bolsonara não é capaz de soletrar o nome de Gramsci a não ser assim: Gramíxi. 

Olavo de Carvalho abominava menos Marcuse que Gramsci, porque este é mais conhecido nos colégios e universidades. Marcuse não era tão lido pela gurizada.  

O presidente da República ficou tão encucado com ódio ao pensador italiano como se este fosse o criador do PT em São Paulo. De tanto os bolsonecos meterem o sarrafo em Gramsci, este ficou mais conhecido que Coca-Cola. 

O catolicão Olavo de Carvalho, que não se compara a Gustavo Corção e Tristão de Ataíde, identificava Gramsci com o PT. Errada essa identificação, pois o PT na verdade converteu o socialismo de Gramsci em catolicismo. O burguês cristão. 

Futuro sombrio de um governo cujo guia espiritual era um falsário que nunca esteve preocupado com a sorte do povo. Olavo de Carvalho era pietà zero, ainda que se apresentasse como soldado de Cristo. Ele, ao contrário de Epicuro, não era amigo do mundo, portanto não poderia ser humanista. Detestava o povo e o Brasil. 

O liberalismo de perfil cristão de Olavo de Carvalho deu o golpe de 64 para entregar o país às multinacionais. Repetia a palavra de ordem do gringo Steve Bannon contra o globalismo. Era o discurso mula sem cabeça porque a multinacional é o agente do capital globalizado. Nunca falou ou escreveu uma linha sequer contra o domínio das multinacionais. Olavo de Carvalho não tinha absolutamente nada de nacionalista e muito menos de populista, se este for entendido como aquele que ama o povo. 

O gramsciniano Pasolini em seu filme Saló, que antecipa o retrato psicológico de Olavo de Carvalho, colocou na boca de um de seus personagens: “nós fascistas somos o ponto de encontro entre o máximo de autocratismo com o máximo de anarquia”. 

 Gramsci em 1915 optou pelo socialismo e, depois em 1929, criticou a Igreja Católica por aplaudir o vitorioso Mussolini. 

Olavo de Carvalho achava que os professores comunistas não trabalhavam e mamavam nas tetas do Estado. Nos EUA mentia que havia sido professor da PUC no Paraná. Por ter conseguido o que almejou no mundo editorial, um montão de otários coletivos o seguiam na internet. Surpreendente ter ele saltado do barco Bolsonaro dando tiros a torto e a direito, tal qual Bannon fez com Trump, abrindo o jogo que o genro trumpinho estava metendo a mão no tesouro. 

Steve Bannon foi o Lincoln Gordon nas eleições de 2018, muito mais maligno que o embaixador norte-americano por causa da amplitude da mídia. 

Em cada época histórica temos de nos ocupar com determinados tipos abomináveis. Marx reclamou disso no livro 18 Brumário: chatice é ter que tratar do medíocre Luís Bonaparte. O galego Steve Bannon foi o estrategista da campanha de Trump.

Em campanha eleitoral não há escrúpulo, vale tudo. Embora vindo da senzala, Steve Bannon é um burguês racista. A campanha eleitoral se faz com mentira, medo e beligerância. 

 Steve Bannon, o ariano hedonista, não fez sucesso na Bahia. Em relação aos autores vivos e mortos, Olavo de Carvalho dizia o seguinte: bom mesmo sou eu, só eu. Eu sou irresistível, eu faço e arrebento, eu indico e desindico os ministros de Jair Bolsonaro. Eu faço a cabeça dos milicos das Agulhas Negras. Já coloquei o Araújo no Itamaraty. Nem o diplomata José Guilherme Merquior da Academia Brasileira de Letras, de quem ele plagiou mal a reflexão sobre Gramsci, foi capaz de ter um poder igual junto a Fernando Collor. Merquior participou dos banquetes opíparos de Roberto Campos e, de todos os “marxistas ocidentais”, teve simpatia por Gramsci. 

Roberto Campos na década de 90 viu Olavo de Carvalho como bucha de canhão do imperialismo por ser ele ambicioso e de origem pobre.  

Os amigos de Palmiro Togliatti jamais poderiam imaginar que Gramsci seria objeto de ódio quase todos os dias por aqui. José Guilherme Merquior foi o mais prestigiado e prestigioso liberal que passou pelo Itamaraty. Olavo de Carvalho morria de inveja e não escondia as divergências com o iluminista José Guilherme Merquior, homem fino, culto, entendido em psicanálise, essa ciência charlatã que quer suprimir Deus e a família. Para Olavo de Carvalho o inconsciente é uma invenção diabólica de Freud para justificar os atos e gestos dos ateus canalhas. É a falta de Igreja que leva a humanidade a procurar o divã. Melhor do que consultar psicanalista seria pagar o dízimo a Edir Macedo. 

Roberto Campos gostava de fazer piadinha com Marx e Freud, a combinação de inconsciente e comunismo. Acusaram Haddad de “freudomarxista” por querer implantar o kit-gay com a mamadeira de piroca na adolescência colegial. 

O “falo” sem gozo de Olavo perdia as estribeiras cioso de sua macheza quando lhe lembravam que Platão era homossexual. Nunca abriu o jogo se Roberto Campos era ou não chegado a uma suruba livre cambista na Avenida Paulista. From Mato Grosso, o ex-seminarista de Guaxupé, foi o único “gênio” que ele adorava sem restrição. Follow the money. 

 Na alternativa católica entre o pecado e a graça, muitas vezes é necessária a tortura. Quanto mais tosco, grosseiro e violento era Olavo de Carvalho, mais ganhava fama e prestígio interferindo no governo Bolsonaro.

Sérgio Moro anti-Gramsci, tal qual Olavo de Carvalho, admira os remanescentes dos camisas pretas no judiciário italiano: o inferno capitalista é melhor do que qualquer paraíso socialista. 

Olavo de Carvalho nunca formulou a pergunta que lhe era desagradável e irrespondível sobre os traidores de Jair Bolsonaro. 

Os livros de Olavo de Carvalho são fugazes como um efêmero sucesso sertanejo universitário. O problema é que ele fez a cabeça cretina do poder. Ninguém mais se lembra do general Golbery assoprando novidades geopolíticas para os generais de 1964. A questão é a fisionomia intelectual do poder. O governo que colocou Deus acima do Pão de Açúcar segue o roteiro baixo nível de Olavo de Carvalho.

  A eficácia whatsapp à Olavo de Carvalho consistia em vender mentira e espalhar o terror. O seu pendor miliciano afetou sua maneira de ver Antonio Gramsci. Herbert Marcuse, aluno de Edmund Hurssel e Martin Heidegger, depois colega de Theodor Adorno e Max Horkheimer, lamentavelmente conseguiu, segundo Olavo de Carvalho, fugir da Alemanha hitlerista. Foi um vacilo da polícia de Hitler. A guarda hitlerista vacilou, não deveria ter deixado Marcuse escapar da câmara de gás e do campo de concentração. Nesse aspecto a repressão mussoliniana foi mais diligente em relação a Gramsci, o qual deveria ser eliminado por conceber a escola como uma maneira de subtrair-se à hegemonia cultural burguesa. 

Ninguém reparou que Olavo de Carvalho era coroinha de Edir Macedo. Vociferavam em uníssono: maldito Sófocles com seu Édipo. Vamos proibir a tragédia grega nos colégios para pôr fim à masturbação da gurizada que pode mais tarde virar trotskista. Quem se masturba não reza, não se flagela, não se humilha, não curte o sofrimento. A campanha de Jair Bolsonaro foi feita com o fantasma do onanismo infantil. O kit-gay estimula a molecada a se masturbar sem culpa. 

Steve Bannon deu a dica da maldade para os bolsonecos: vamos divulgar que a criança é um ser sagrado que não tem sexo. O povo não conhece Sigmund Freud, o povo brasileiro é educado no sino de igreja. Os hermanos Bolsonaro foram a Nova Iorque ouvir a preleção do midiólogo de Trump. O PT é kit-gay. As crianças masturbam-se logo nos primeiros dias posteriores ao nascimento. Os professores marxistas querem tirar a inocência da infância, a pureza que os adultos não têm mais. Façamos um pênis de plástico simulando uma mamadeira petista a fim de passar na TV Record do Bishop Edir Macedo.  

Olavo de Carvalho advertia que o inimigo era George Soros, o bilionário aliado aos marxistas, para quem o prazer pode existir sem pecado.

 A norte-americanização imperialista foi preconizada por Olavo de Cavalho que pousava de chapéu de caubói. Há que se estigmatizar os professores entusiastas de Nietzsche que consideram a religião uma neurose fundada no jejum e na abstinência sexual. Olavo de Carvalho não tinha o menor constrangimento em cortar-lhes o emprego e o salário. 

Janaína Pascoal não nasceu adulta e antimarxista em sua fúria contra o delituoso. É por essa fúria contra o delito (o criminal é o marxismo) que ela virou “protagonista” olavista de Carvalho. A malandragem da ascensão social. De professora a deputada. Seu orientador de tese, Miguel Reale Júnior, que veio de descendência integralista, considera que o dinheiro não tem cheiro. Não é por acaso que Olavo de Carvalho adorava o velho integralista Miguel Reale. Atenção, ponho aqui o reparo de que não poderá existir Gramsci que seja reacionário. 

 Olavo de Carvalho propagava a lorota de que um dia ele tinha sido marxista. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário