sexta-feira, 17 de maio de 2019

Ordem e Protesto



Protesto em Floripa/2019 - Foto: Rubens Lopes

            Calderón de la Barca dizia: “cuidado com as águas mansas”. Estava tudo aparentemente em ordem e tranquilo, mas de repente desbotou a maquiagem que vinha desde o plano real: a voz da raiva tomou conta das ruas.

            Atenção. Protesto não é resistência, insurreição, tampouco indício de situação pré-revolucionária; todavia isso não significa, como quer o quietismo do pijamão universitário, golpismo contra a Dilma. Também não é como sugerem os ponderados afrescalhados, estéril manifestação volátil por não orbitar na esfera da representação oficial da política.

            A verdade é que a burguesia não tolera de que a política seja feita de modo extra-parlamentar. O bom senso, segundo os âncoras burgueses da TV, é ficar em casa quietinho e, na hora da voto, votar segundo os candidatos da telenovela. É isso a democracia safadamente identificada com capitalismo. Ora, o objetivo do capitalista não é a liberdade, e sim o lucro. Com ou sem democracia o importante é o lucro.

            Não é por acaso que a palavra mais usada pelos parlamentares e jornalistas é “democracia”, a qual não teria nada a ver com a luta de classes. Não vemos nenhum professor salsichão na TV falando que o capitalismo é contra a democracia. É preciso tomar cuidado com a edição do protesto feita pela TV. Não nos esqueçamos de que o sistema televisivo é totalitário desde as suas origens.

            O protesto tem que ir além da palavra de ordem pequeno burguesa, a qual dá a entender que o mal do mundo é inerente ao capitalismo, mas não é a essência do capitalismo. A essência deste é a exploração da força de trabalho.

            Quanto ao vandalismo, é preciso esclarecer que, como dizia Carlos Marx em O Capital, acumulação primitiva e originária do capital foi feita de maneira vândala, explorando o trabalho infantil e o trabalho das mulheres. Então, eis a verdadeira palavra de ordem: capitalismo é vandalismo, vândalo é o latifúndio agrobusiness, vândalo é o banco, vândalo é o plano de saúde, vândalas são as tarifas telefônicas, vândalo é o show pop, vândala é a indústria farmacêutica, vândala é a imprensa, a qual é a mais empresa do que informação. Os âncoras jornalistas correm o risco de não poderem sair de casa. Cagaço. Estes profissionais da mais-valia ideológica são terroristas.

            Os protestos começam a amedrontar a mídia quando os alvos dos protestos assumem dimensão anticapitalista. Estes alvos estão localizados nos consórcios de bancos, empresas multinacionais, televisão e grandes jornais. Sem esquecer o latifúndio Monsanto que produz comida cancerígena e remédio que não cura.

            Não é preciso dizer que o protesto vai pegar fundo se a classe operária entrar na parada, aí é que o bicho pega. Lenin dizia que o ataque ao partido político é uma estratégia da burguesia. O ataque ao partido político é incentivado pela telenovela. Hoje está na moda substituir o conceito de classe social por massa popular. Daí a mistificação do pluralismo que serve para esvaziar o conceito de classe social e de exploração do trabalho.

            É claro que o sarampão antipartido se justifica por causa da escolástica do sistema representativo. Mas isso não exclui a necessidade de se ter um partido de massas de esquerda. Enquanto não aparece uma direção revolucionária, como queria Leon Trotsky, é importante desenvolver uma gramática de desobediência civil expressa na tecnologia digital com epigramas e aforismos radicais. Mas, cuidado, dona Odete, a história não é feita pela internet.

Revista Caros Amigos

Ano XVII, número 197, agosto de 2013
Página 08: “Gilberto Felisberto Vasconcellos: Capitalismo contra Democracia”

Compilação: Matheus Rosa



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