sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Adão & Eva na pepsia de Jair Bolsonaro contra a mordida da maçã



Tenho por intuição que o candidato Bolsonaro atingiu tal  persuasão não por causa da arma de fogo, da violência, da matança de bandido, da grossura discursiva típica de programa de auditório, do anticomunismo ou da venezofobia, e sim por causa do pânico insuflado em torno da homossexualidade, o que pressupõe a aversão ao onanismo infantil, ou melhor, o fantasma da masturbação na infância.

Segundo a ciência da sexualidade de Bolsonaro, que deve ter sido haurida em banheiros do Exército e nas sacristias castas de Igrejas, o sexo desponta no ser humano apenas na puberdade. Antes não há sexo, como antes da maçã de Adão e Eva, ou seja, a infância é um paraíso porque é assexual.

Se porventura a criança masturbar-se, de certo isso será resultante de eflúvios petistas disseminados em escolas laicas influenciadas pelo marxismo do louco Wilhelm Reich.

Professores degenerados merecem é o olho da rua, ou senão presos, incomunicáveis, torturados. São os professores tarados que querem tirar a inocência da infância colocando instintos sexuais nos corpos da gurizada. Parece a Idade Média, mas não é.

A inocência é a ausência de sexo identificado com pecado.

Em 2015, os psicanalistas Cybelle Weinberg e Manoel Tosta Berlinck estavam pensando na ciência bolsonara da sexualidade quando escreveram sobre o jejum religioso e a neurose anoréxica que persegue muitos jovens sob a influência da pós-modernidade publicitária.

Intelectuais da Igreja como Santo Agostinho, Padre Antônio Vieira, Tertuliano e Jerônimo exaltaram o jejum, a virgindade, o ascetismo, a castidade, o corpo emagrecido e o horror de comer e ser comido, enfim, enalteceram o instinto de morte, porquanto o corpo morto é o fundamento de toda religião.

A papagaiagem sobre coisa que não se sabe espalha-se de maneira impressionante, como é o caso da expressão “ideologia de gênero”. Ideologia já é uma palavra que para ser explicada o caboclo deve ler pelo menos uns 5000 livros. Acrescente-se “gênero”, aí então a semântica vai para o brejo.

Gênero na psicanálise é uma discussão introduzida nos Estados Unidos em 1975. Refere-se a um sentimento identitário, social e psíquico, que transcende a diferencia entre macho e fêmea.

Vejamos a equação que não está nos manuais de sexologia lidos pelo Doria, o Trumpinho bandeirante que reza o terço todas as manhãs. Eis a equação: homos=igual, héteros=diferente.

Em 1870, mais ou menos 85 anos antes de Jair Bolsonaro nascer em Campinas, a terra do grande Carlos Gomes, surgiu a palavra homossexualidade. Curioso é que poucos anos depois Freud preferisse usar a palavra bissexualidade.

Homossexual seria uma escolha psíquica, inconsciente, que estaria latente em todos heterossexuais. Portanto, não se pode separar em grupos humanos distintos o homo e o hétero.

Para Sigmund Freud, a homossexualidade não era vício nem motivo de vergonha. Muitos gênios foram homossexuais: Platão, Miguel Angelo, Leonardo DaVinci, Oscar Wilde, Marcel Proust, Pier Paolo Pasolini e Santos Dumont.

A homossexualidade não é doença nem crime. A tal da kuragay é uma neurose enrustida do Bishop Edir Macedo.  Inútil querer transformar um homossexual em um heterossexual. Enigmático para Freud era a homossexualidade feminina. Freud abordou mais o homossexual masculino.
A discussão sobre o gênero implica a igualdade do direito dos sexos. Homem e mulher são social e sexualmente iguais. A sexualidade é uma construção cultural, e não meramente anatômica.

Colonizado por Roliude nos filmes de guerra, Jair Bolsonaro seguiu o seu guru norte-americano Steve Bannon: vender mentiras e espalhar o terror, tal como sucedeu com o Trump vitorioso.

Pegou fundo a mentira sobre a inocência sexual infantil. Isso surtiu efeito: “estão querendo transformar todas as crianças em homossexuais e lésbicas”. Este brado moralista pegou no povo. É que o povo é moralista. Você não pode de uma hora para outra chegar no pai de família e falar que o filho dele é gay e achar que ele vai aceitar isso numa boa. Não vai.

Atenção: Bolsonaro não tem absolutamente nada contra a pornografia, porque a direita é pornográfica, assim como o sistema produtor de mercadoria chamado capitalismo.


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